LINGUAGEM MÉDICA

VÓLVULO, VOLVO

        Uma das afecções comuns em patologia do aparelho digestivo é a torção de uma víscera oca em torno de sua fixação na parede abdominal, denominada vólvulo ou volvo.. Pode ocorrer em qualquer segmento do trato digestivo, como o estômago, intestino delgado, ceco, cólon, porém é mais comum no cólon sigmóide, por sua extensão e livre mobilidade na cavidade abdominal, sobretudo nos casos em que o mesmo se apresenta alongado ou dilatado.

        Em terminologia médica deve usar-se um único nome para cada coisa e a sinonímia deve ser evitada. Assim, sempre que deparamos com mais de um termo com o mesmo significado, devemos optar por um deles.

        No caso, qual seria preferível: Vólvulo ou volvo?

        Ambos os termos são variantes procedentes de uma mesma palavra latina, volvulus, por sua vez derivada do verbo volvo, volvere, com o sentido de enrolar, rodar [1]. Segundo Skinner, volvulus foi introduzido no vocabulário médico por Celsus (séc. II d.C.) para designar a obstrução intestinal, com significado idêntico ao de ileus [2]

        Do latim, o termo passou para as línguas modernas, conservando a grafia original em francês, inglês e alemão, e sofrendo adaptações em outros idiomas.

        Em italiano, além da forma latina, usam-se as formas paralelas vòlvulo e vòlvolo. A forma mais empregada é vòlvulo, em uma proporção de 6:1 em relação a volvulus e de 7:1 em relação a vòlvolo, conforme se verifica das ocorrências constantes no site de busca GOOGLE [3].

        Em espanhol e português, a forma latina foi adaptada para vólvulo, com acento agudo na primeira sílaba, indicando o som aberto da vogal "o". Em português, contudo, o que se ouve habitualmente é a pronúncia com o som fechado da vogal tônica - vôlvulo.

        Posteriormente acrescentou-se a forma sincopada volvo. Houaiss menciona a datação histórica de 1712 para vólvulo e 1858 para volvo [4].

        Os dicionários mais antigos da língua portuguesa só registram vólvulo (Moraes, 1813; Constancio, 1845; Faria, 1856). Após a introdução de volvo no vocabulário médico como equivalente de vólvulo, os lexicógrafos passaram a registrar ambos os termos, com preferência para vólvulo (Lacerda, 1874; Vieira, 1874; Aulete, 1881).

        Os dicionários mais modernos ora averbam volvo com remissão para vólvulo (Aulete-Garcia, 1980; Aurélio, 1999; Houaiss, 2001), ora, inversamente, vólvulo com remissão para volvo (C. Figueiredo, 1949; Silveira Bueno, 1963; Michaelis, 1998). Nos dicionários médicos de P.Pinto (1962) e Luis Rey (2003) só consta o termo volvo.

        Em espanhol há uma nítida preferência para vólvulo em relação a volvo, na proporção de 14:1, enquanto em português predomina volvo sobre vólvulo na proporção de 9:1, segundo as ocorrências verificadas no site de busca GOOGLE [3].

        Em 95 trabalhos indexados pela BIREME, tendo no título a palavra vólvulo, 89 foram escritos em espanhol (93,7%) e apenas 6 em português (6,3%). Inversamente, 22 trabalhos tendo no título a palavra volvo, todos foram escritos em português e nenhum em espanhol (5).

        Verifica-se, portanto, em nosso idioma, uma clara tendência a favor da forma volvo, que certamente irá substituir em definitivo a forma vólvulo no futuro.

Referências bibliográficas

1. SARAIVA, F.R. dos Santos - Dicionário latino-português, 10.ed. Rio de Janeiro, Liv. Garnier, 1993.
2. SKINNER, Henry A. - The origin of medical terms, 2.ed. Baltimore, Williams , Wilkins, 1961.
3. INTERNET. Site de busca GOOGLE. Consulta em 06/05/2006.
4. HOUAISS, Antônio, VILLAR, Mauro de Salles – Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
5. INTERNET. Bireme. Disponível em http://www.bireme.br/ . Consulta em 06/05/2006.


Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br