AMILASE, LIPASE E OUTRAS ENZIMAS
O sufixo -ase é
utilizado para designar enzimas.
Tanto o sufixo -ase
como os sufixos -íase
e -ose são sufixos verbais
de origem grega, resultantes todos de um primitivo sufixo -sis.
"Dos verbos de tema em
a
com sufixo -sis resulta
-iasis(-íase),
e dos verbos de tema em o com o sufixo -sis,
geralmente com alongamento daquela vogal, formou-se -osis (ose)".[1]
Ex.: diástase, litíase, lordose.
O sufixo -ase é
empregado "especialmente na acepção de fermento solúvel
(diástase), de onde se tomou diretamente".[1]
A palavra diástasis,
em grego, significa separação, e foi utilizada por
Kirchhoff, em 1814, para designar a substância encontrada no extrato
de cevada, responsável pelo desdobramento do amido em dextrina e
glicose. O mesmo termo estendeu-se a todo catalisador biológico
de natureza proteica.[2]
Com a introdução
em 1878, por Kühne, do termo enzyme para os fermentos solúveis,
a Nomenclatura Internacional de Química passou a utilizar-se
deste novo termo para designar, de maneira genérica, todos os biocatalisadores.[2]
A diástase,
primitivamente descrita por Kirchhoff, passou a chamar-se amilase,
indicando-se, com o novo nome, o substrato sobre o qual atua a enzima e
aproveitando-se do sufixo -ase da denominação anterior.[3]
As demais enzimas, descobertas
posteriormente, receberam, de modo análogo, a denominação
do substrato, seguido da terminação -ase, que passou
a indicar enzima.
Diástase é
palavra proparoxítona em virtude da quantidade do sufixo -asis
em grego e em latim. Por esta razão pretende-se tornar esdrúxulas
todas as palavras novas com o sufixo -ase, criadas para nomear enzimas.
Teríamos, assim, de dizer amílase, lípase, transamínase,
láctase, máltase, mútase, redútase, etc. A
propósito de amilase, encontra-se no dicionário de
Aulete-Garcia a seguinte nota: "À semelhança de diástase
deve dizer-se amílase e não amilase".[4]
É necessário
lembrar que tais termos inexistiam em grego e latim, tendo sido criados
somente a partir do século XIX nas línguas de cultura do
Ocidente. Não há razão, portanto, para se lhes aplicar
o modelo proparoxítono de diástase.
Acresce notar que a tendência
da língua portuguesa é para a tonicidade da penúltima
sílaba. A linguagem médica consagrou como paroxítonos
todos os nomes de enzimas e seria anacrônico pretender o contrário.
O Vocabulário
Ortográfico da Academia Brasileira de Letras[5] e o Michaelis
[6] já registram as duas formas, enquanto a 3a. edição
do Aurélio [7] já abandonou a forma proparoxítona,
o que indica que a forma paroxítona irá prevalecer em definitivo.
Referências bibliográficas
1. LOURO, J.I. - O grego aplicado à linguagem científica.
Porto, Ed. Educação Nacional, 1940, p. 240
2. MANUILA, A., MANUILA, L., NICOLE, M., LAMBERT, H.
- Dictionnaire français de médecine et de biologie. Paris,
Masson & Cie., 1970.
3. GALVÃO, B.F.R. - Vocabulário etymologico,
ortographico e prosodico das palavras portuguesas derivadas da língua
grega. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1909.
4. AULETE, F.J. Caldas , GARCIA, Hamilcar de - Dicionário
contemporâneo da língua portuguesa, 3.ed. Rio de Janeiro,
Ed. Delta, 1980.
5 ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS - Vocabulário
ortográfico da língua portuguesa, 3. ed. Rio de Janeiro,
Imprensa Nacional, 1999.
6. MICHAELIS 0 Moderno dicionário da língua
portuguesa. São Paulo, Cia. Melhoramentos, 1998.
7. FERREIRA, A.B.H. - Novo dicionário da língua
portuguesa, 3.ed. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1999.