CONCORDÂNCIA VERBAL
A concordância do verbo
com o sujeito da oração apresenta, por vezes, algumas dificuldades
com as quais tropeçamos com frequência na redação
de artigos científicos.
Embora se encontre nas gramáticas
a orientação necessária baseada em exemplos colhidos
em textos de escritores clássicos, julgamos útil transpor
para a linguagem médica as regras de concordância verbal aplicáveis
àqueles casos que geralmente nos trazem dúvidas.
A regra básica é
de que o verbo concorda com o sujeito em número e pessoa. Em determinadas
construções, no entanto, quando se trata de sujeito composto,
a condição de pluralidade depende de interpretação
e, em muitos casos, admite-se a concordância tanto no singular como
no plural.
Damos, a seguir, alguns exemplos :
1. Os sujeitos na 3a.
pessoa ligados pela conjunção e exigem o verbo no
plural:
Ex.: Dieta e exercício
são essenciais ao diabético.
Tratando-se, porém,
de palavras sinônimas ou que expressam a mesma idéia, o verbo
pode ficar no singular
Ex.: Habilidade
e destreza revela o bom cirurgião
2. Quando os sujeitos forem
resumidos em uma palavra como tudo, nada, nenhum, cada, o verbo
ficará no singular.
Ex.: As náuseas,
a febre, a dor na fossa ilíaca direita, o sinal de Blumberg positivo,
tudo indicava tratar-se de apendicite aguda.
3. Quando os sujeitos vierem
após o verbo, admite-se a concordância com o mais próximo,
no singular, ou, de preferência, com a totalidade, no plural.
Ex.: No singular
– Na hemiplegia observa-se contratura muscular, marcha ceifante e sinal
de Babinski.
No plural – Confirmaram
a hipótese diagnóstica a ultrassonografia e a tomografia
computadorizada.
4. Sendo o sujeito o pronome
quem
o verbo fica no singular.
Ex.: Quem mede
a temperatura e toma a pressão arterial dos doentes no Hospital
são as auxiliares de enfermagem.
Admite-se também
a concordância com a palavra que antecede o pronome.
Ex.: Fui eu quem
operei o paciente, em vez de fui eu quem operou o paciente.
5. Nos casos de sujeitos
da 3a. pessoa do singular ligados pela conjunção
nem,
o
verbo poderá ficar no singular ou no plural.
Ex.: No singular – Nem
a intubação traqueal, nem a massagem cardíaca reanimou
o paciente.
No plural – Nem os analgésicos
comuns, nem os opiáceos aliviaram a dor.
6. Nos casos de sujeitos
ligados pela partícula com, o verbo poderá ficar no
singular ou no plural. Usa-se o singular quando se pretende realçar
a ação do
primeiro deles e o plural para indicar igualdade
de cooperação entre os sujeitos.
Ex.: No singular – O
professor com seus assistentes operou o paciente.
No plural – O professor
com seus assistentes operaram o paciente.
7. Os sujeitos ligados por
assim
como, tanto...como, não só...mas também pedem
o verbo no plural.
Ex.: A anamnese assim
como o exame físico são imprescindíveis em qualquer
especialidade.
Tanto a história
clínica, como a icterícia e o prurido cutâneo sugerem
tratar-se de colestase extra-hepática.
Não só
os corticóides mas também os imunossupressores, como
a azatioprina, estão indicados no tratamento da doença de
Crohn.
8. Estando os dois sujeitos
ligados por bem como, o verbo concorda com o primeiro.
Ex.: Este antibiótico,
bem como todos os macrolídeos, é eficaz nas infecções
urinárias.
9. Quando a expressão
um
e outro, uma e outra figura como sujeito da frase, o verbo tanto
pode estar no singular como no plural.
Ex.: No singular
– Um e outro tratamento pode ser empregado.
No plural – Uma
e outra técnica foram usadas, ambas
com bons resultados.
10. Quando se trata do verbo
ser,
a concordância se faz de preferência com o predicativo. Se,
entretanto, o sujeito for uma pessoa, o verbo ficará no
singular..
Ex.: No plural - A causa
da hipopotassemia foram os vômitos.
No singular - Médico não é apenas os curadores
das doenças do corpo, mas também as da mente.
11. Com o sujeito representado
pela expressão mais de um, mais de uma, é preferível
o verbo no singular. Contudo, também se usa no plural.
Ex.: No singular - Mais
de um médico cuidou deste paciente.
No plural – Mais
de um pesquisador chegaram à mesma conclusão.
Com a expressão mais
de dois, mais de três etc o plural é obrigatório.
12. Com a expressão
um
dos...que, uma das...que, o verbo pode ser usado indiferentemente no
singular ou no plural.
Ex.: No singular – Dentre
os cientistas brasileiros, Carlos Chagas foi um dos que mais contribuiu
para a projeção da medicina brasileira no
exterior.
No plural – A
descoberta dos raios-X foi um dos marcos que assinalaram o início
da era tecnológica na medicina.
13. O sujeito representado
por um substantivo coletivo, como grande número, grande parte,
maioria, seguido de complemento no plural admite o verbo
tanto
no singular ou no plural.
Ex.: No singular – Grande
número de publicações médicas brasileiras
não se encontra indexada.
A
maioria dos estudantes tomou parte na manifestação de
protesto.
No plural - Grande parte
dos recursos destinados à saúde são mal aplicados.
A maioria dos médicos em atividade possuem algum tipo de emprego
e trabalham em mais de um local.
14. Os sujeitos ligados pela
conjunção ou admitem o verbo tanto no singular como
no plural. O verbo ficará obrigatoriamente no singular se os sujeitos
forem sinônimos.
Ex.: A tripanossomíase
americana ou doença de Chagas é endêmica nos países
sul-americanos.
Há outras particularidades de concordância verbal que não foram aqui incluídas. Limitâmo-nos aos casos mais comuns e de maior interesse para a linguagem médica.