CÓRTEX, CÓRTICE
Cortex é
palavra latina usada de longa data em botânica para designar o revestimento
externo ou casca das árvores.
Segundo Skinner, como termo
médico só aparece no século XVII para nomear
a camada superficial do cérebro: cortex cerebri
(Riolan, 1650).[1] A denominação atual na terminologia
anatômica é
cortex cerebralis.[2]
Além do encéfalo
(córtex cerebral, córtex cerebelar), emprega-se também
em relação às glândulas suprarrenais e, menos
frequentemente, aos rins, timo, gânglios linfáticos e outras
estruturas.
Manuila e col. assim definem
córtex: "parte externa de um órgão, distinta da cápsula,
situada em torno da parte central (medular) deste órgão".[3]
A exemplo de outras palavras
como códice, índice, vértice, víbice, derivadas,
respectivamente, do latim codex, index, vertex, vibix,
o correspondente vernáculo de cortex vem a ser córtice,
forma que se encontra dicionarizada, sendo, porém pouco empregada.
A tradução da Nomina Anatomica para
a língua portuguesa preservou as duas formas: córtex e
córtice.
Esta duplicidade de formas existe também em espanhol (cortex,
corteza). A forma corteza tem ampla aceitação,
sendo empregada de preferência à
cortex.[4]
De cortex,
icis
formou-se ainda, em português, cortiça, cujo significado
restringiu-se à casca espessa e macia do sobreiro e de outras poucas
árvores, com que se fabricam rolhas e outros utensílios.
Houve, de início,
vacilação quanto ao gênero de córtex em português.
Cortex,
em latim, possuía os dois gêneros, porém o feminino
era empregado em linguagem literária e poética com o sentido
de invólucro.[5]
Na acepção
de casca, de cortiça, era do gênero masculino, razão
pela qual se justifica a manutenção do mesmo gênero
em português.[6] Apesar disso, médicos de sólidos conhecimentos
linguísticos, como Francisco de Castro, usaram "a córtex
cerebral". Pedro Pinto justifica o fato lembrando que as palavras mudam
frequentemente de gênero ao passarem de uma língua para outra.[7]
Os dicionários modernos,
no entanto, consignam somente o gênero masculino, tanto para córtex,
como para córtice.[8][9][10][11]
Córtex tanto se aplica
no singular como no plural, porquanto as palavras terminadas em x com
o som de cs (tórax, ônix) não têm flexão
de número.
Referências bibliográficas
1. SKINNER, H.A. - The origin of medical terms, 2.ed.
Baltimore, Williams & Wilkins, 1961, p.126.
2. FEDERATIVE COMMITTEE ON ANATOMICAL TERMINOLOGY. -
Terminologia anatomica. Stuttgart, Georg Thieme Verlag, 1998, p. A76.
3. MANUILA, A., MANUILA, L., NICOLE, M., LAMBERT, H.
Dictionnaire français de médecine et de biologie. Paris,
Masson & Cie., 1970..
4. BIREME - Index medicus latino-americano, 1979-1987.
5. ERNOUT, A. MEILLET, A.: Dictionnaire étymologique
de la langue latine. Histoire des mots, 4.ed. Paris, Ed. Klincksieck, 1979.
6. BARBOSA, P. - Dicionário de terminologia médica
portuguesa. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1917.
7. PINTO, P.A. - Dicionário de termos médicos,
8. ed. Rio de Janeiro, Ed. Científica, 1962.
8. MICHAELIS - Moderno dicionário da língua
portuguesa. São Paulo, Cia. Melhoramentos, 1998.
9. FERREIRA, A.B.H. - Novo dicionário da língua
portuguesa, 3.ed. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1999.
10. ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS - Vocabulário
ortográfico da língua portuguesa, 3. ed. Rio de Janeiro,
Imprensa Nacional, 1999.
11. HOUAISS, A. VILLAR, M.S. – Dicionário Houaiss
da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001