DICIONÁRIOS E TERMOS MÉDICOS
Conta-se a anedota
de um homem simples do povo, que após ouvir falar a Rui Barbosa,
disse-lhe todo orgulhoso: "Eu tenho um livro lá em casa que tem
tudo que o Sr. falou", ao que Rui teria indagado, surpreso: - "E que livro
é esse?" - "Chama-se DICIONÁRIO", replicou o feliz possuidor
de tamanho tesouro.
Este conceito de onisciência
e polivalência do dicionário está de tal modo arraigado
entre nós que, mesmo entre as pessoas de instrução
superior, é freqüente ouvirem-se frases como estas: "Está
no dicionário", "eu vi no dicionário", como se o conteúdo
de um dicionário fosse o próprio texto de um livro sagrado,
infalível, definitivo.
Infelizmente a verdade é
bem outra. Os dicionários, por melhores que sejam, contêm
falhas, omissões, erros e opiniões divergentes entre si.
Todo trabalho humano é necessariamente imperfeito e os dicionários
com maior razão ainda, em virtude de sua natureza e complexidade.
As dificuldades na organização
de um dicionário são inúmeras: de ordem ortográfica,
prosódica, etimológica, semântica, sem falar nos percalços
da editoração.
Vamos considerar apenas
dois aspectos: a semântica e o corpus lexical, ou seja, o
número de palavras averbadas.
A língua não
é estática, "move-se ao longo do tempo numa corrente que
ela própria constrói" (Sapir). O dicionário nada mais
representa que o registro das palavras de uma língua em um dado
momento da sua história. Muitas palavras nascem, envelhecem e morrem
como células integrantes de um organismo vivo. Outras sobrevivem,
porém sofrem mudanças de significado ou adquirem com o tempo
novas acepções.
Tais mudanças são
lentas, mas podem ser facilmente percebidas ao folhearmos um dicionário
de um ou dois séculos passados, quando deparamos com quantas palavras
que já não se usam e que lá estão, mumificadas,
ao lado de outras que ganharam significados novos.
Os lexicógrafos nada
mais fazem do que registrar os vocábulos em uso, que eles procuram
captar em suas várias acepções nas fontes disponíveis
ao seu alcance. Alguns conseguem uma coleta mais ampla e enriquecem o seu
trabalho com citações de textos e autores por eles consultados.
A par disso, registram a categoria gramatical da palavra, a sua pronúncia
e a sua etimologia. Os dicionários mais bem elaborados assinalam
ainda a data em que a palavra foi introduzida na linguagem escrita.
A dificuldade maior na organização
de um dicionário, entretanto, reside no que Houaiss chamou de "explosão
vocabular", que fez com que o corpus lexical da língua
portuguesa passasse de cerca de 20.000 a 30.000 palavras no início
do século XIX para aproximadamente 350.000 a 400.000 palavras atuais.
Essa explosão vocabular
se deve, sobretudo, ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia.
Os novos termos criados são de uso internacional, sofrendo adaptações
morfológicas em cada idioma em particular.[1]
Os melhores dicionários
existentes em língua portuguesa resultaram do esforço de
alguns abnegados lexicógrafos, que dedicaram parte de sua existência
a um trabalho árduo e penoso, nem sempre compensador, para nos legarem
o que de melhor existe em matéria de lexicografia.
No século XVIII o
Vocabulário
Português e Latino, de Rafael Bluteau, publicado em Lisboa entre
1712 e 1728, representou um marco na história da língua portuguesa.
No início do século
XIX veio a lume o dicionário de Antônio de Moraes Silva, cuja
segunda edição, de 1813, é considerada obra clássica
de lexicografia portuguesa. Seguiram-se, entre outros, os dicionários
de Francisco Solano Constâncio (1836), Eduardo de Faria (1849), Frei
Domingos Vieira (1871), Correa de Lacerda (1874), Caldas Aulete-Santos
Valente (1881), Cândido de Figueiredo (1899), cada qual apregoando
sua superioridade sobre os seus antecessores, todos com falhas, omissões
e incorreções. À exceção do dicionário
de Constâncio, publicado em Paris, os demais foram impressos em Lisboa.
O primeiro dicionário
da língua portuguesa, escrito e publicado no Brasil, data de 1832,
e se deve ao goiano Luiz Maria da Silva Pinto, que o compôs e imprimiu
na cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais. Intitula-se Dicionário
- Língua brasileira.[2] Trata-se de obra rara e de valor
histórico, infelizmente pouco conhecida.
Os dicionários de
Moraes Silva e Caldas Aulete tiveram edições posteriores
ampliadas, enriquecidas, atualizadas.
No século XX surgiram
no Brasil obras notáveis no campo da lexicografia, como as de Laudelino
Freire-J. L. de Campos, Antenor Nascentes, Silva Bastos, Silveira Bueno,
Prado e Silva, Aurélio Ferreira, Antônio Houaiss. Todas, entretanto,
deficientes no tocante à terminologia cientifica.
Essa deficiência é
muitas vezes agravada pelo propósito do autor de não sobrecarregar
o léxico "com uma verdadeira praga de coleópteros e animais
daninhos", para usar as palavras do grande filólogo Pe. Augusto
Magne, cujo malogrado Dicionário da Língua Portuguesa
interrompeu-se, infelizmente, na letra "A ", por morte do autor.
O Dicionário da
Língua Nacional, previsto pela Lei n° 93, de 21/12/1937,
cuja publicação ficara a cargo do Instituto Nacional do Livro,
jamais passou de um ambicioso projeto.
Academia Brasileira de Letras,
em 1940, designou o Prof. Antenor Nascentes para elaborar o que se propôs
chamar de projeto de um Dicionário da Língua Portuguesa.
O Prof. Nascentes concluiu o seu trabalho em 1943, porém o mesmo
só foi publicado de 1961 a 1967, em 4 volumes. Trata-se de obra
valiosa, porém pouco difundida.
Em cumprimento à
Lei 5.765, de 18/12/1971, a Academia Brasileira de Letras publicou, em
1981, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
organizado por uma Comissão de Acadêmicos, sob a coordenação
do eminente lingüista Prof. Antônio Houaiss. A 3a.
edição, atualizada, do referido Vocabulário,foi
publicada em 1999.
Contamos atualmente com
três modernos dicionários à nossa disposição:
o Michaelis, editado pela Companhia Melhoramentos (1998), a 3a.
edição do dicionário de Aurélio Ferreira, que
se autodenominou Aurélio Século XXI (1999) e o Dicionário
Houaiss (2001), sem dúvida o mais completo dos três, sob todos
os aspectos, especialmente quanto à etimologia e à datação
histórica das palavras.
Em Portugal, também
em 2001, foi lançado o dicionário oficial da Academia das
Ciências de Lisboa, em dois volumes, intitulado Dicionário
da Língua Portuguesa Contemporânea.
Cada área do conhecimento
humano desenvolveu sua própria linguagem, com terminologia pouco
acessível aos não iniciados. Este fato fez com que surgissem
os dicionários especializados, inteiramente dedicados a áreas
específicas do saber. Contam-se às centenas tais dicionários.
No particular da medicina,
desde cedo tornou-se evidente a sua necessidade.
O mais antigo dicionário
impresso de termos médicos de que se tem noticia é de autoria
de Simone Cordo, que viveu de 1270 a 1303. Foi editado pela primeira vez
em Ferrara, em 1471.[3]
Em 1564 foi publicado em
Genebra o Diccionarium Medicum, de autoria de Henrique Estiennes.
Trata-se de uma coletânea de termos médicos greco-latinos
extraídos de autores clássicos, que muito influenciou na
fixação da terminologia anatômica.[4]
Em 1598 foi publicado em
Veneza o Lexicum medicum graeco-latinum, de autoria de Bartolomeu
Castelli, obra que se tornou clássica pelo acervo lexical que contém.[4]]
Em 1679 surgiu a primeira
edição do Lexicum Medicum Graeco-latinum Germanicum,
de Stephen Blancard, médico e farmacêutico holandês.
Trata-se de um pequeno dicionário que teve boa aceitação,
alcançando a quinta edição em 1718.
No século XVIII foi
publicado na Inglaterra o New Medical Dictionary, de John Quincy
e, na Alemanha, o Medizinisch-chirurgisch-terminologisches Wörterbuch,
de Knackstedt.
A partir do século
XIX foram editados em alemão, francês e inglês importantes
léxicos especializados em terminologia médica. Na Alemanha
destacaram-se o dicionário de Ludwig Kraus, intitulado Kritisch
Etymologisches Medicinisches Lexikon, e o de Walter Guttman, Medizinische
Terminologie, cuja primeira edição data de 1902.
Na França a iniciativa
de maior repercussão data de 1806 e se deve a Brosson, médico
e livreiro que editou um pequeno dicionário de medicina e ciências
afins, o qual foi ampliado por Nysten. Este dicionário foi posteriormente
refundido e muito aumentado em 1873 por Littré e Robin, passando
a chamar-se Dictionnaire de Médecine, de Chirurgie, de Pharmacie,
de l’Art Vétérinaire et des Sciences qui s'y Rapportent,
o
mesmo título de outro dicionário semelhante, assinado unicamente
por Littré, cuja 18. edição póstuma foi publicada
em 1898.
O dicionário de Littré
e Robin teve sucessivas edições, sendo que a 21. edição
data de 1908 e traz a assinatura de Littré e Gilbert.
Também na França
foi publicado, em 1899, o Dictionnaire des Termes Techniques de Médecine,
de Garnier e Delamare, obra premiada pela Academia Francesa e que alcançou
a vigésima edição em 1978. Desta última edição
existe tradução para a língua portuguesa.
Finalmente a França
ofereceu à comunidade científica em 1970 o monumental Dictionnaire
Français de Médecine et Biologie, de Manuila e colaboradores,
obra com mais de 150.000 entradas e da qual participaram 350 especialistas.
Na Inglaterra foram editados
dois importantes léxicos: o Dictionary of Terms Used in Medicine,
de Hoblyn (1830) e o dicionário de Mayne, intitulado An Expository
Lexicon of the Terms Ancient and Moderns in Medical and General Science
(1860). Este último, grandemente ampliado e atualizado, foi reeditado
em anos posteriores (1881-1899) sob o nome de The New Sydenham
Society's Lexicon of Medicine and Allied Sciences.[5]
Nos Estados Unidos da América
do Norte vieram a lume no século XIX o Dictionary of Medical
Sciences, de Robley Duglison, que alcançou a 21. edição
em 1893, e o Illustrated Dictionary of Medicine, Biology and Sciences,
de George Gould, cuja 3a edição data de 1896.
Dois outros dicionários
médicos norte-americanos que tiveram grande sucesso e sobreviveram
até os dias atuais, foram o Dorland's Illustrated Medical Dictionary
e
o Stedman's Medical Dictionary. O primeiro deles data de 1900 e
chegou à 28ª edição em 1994, tendo sido traduzido
para o espanhol, japonês e para o alfabeto Braille. O Stedman's
Medical Dictionary teve sua 1ª edição em 1911 e
a 23ª em 1976. Há dele uma tradução para o português.
Um dos mais modernos dicionários
médicos em língua inglesa é o Churchill's Medical
Dictionary, editado em 1989. Com mais de 2.000 páginas e cerca
de 100.000 entradas, nele colaboraram 90 professores e especialistas de
várias Universidades dos Estados Unidos e da Inglaterra.
Em língua espanhola
devem ser mencionados o Dicionário Terminológico de Ciências
Médicas, de Cardenal, que teve seis edições entre
1918 e 1958, e o Dicionário Enciclopédico de Medicina,
de Léon Braier, cujo êxito pode ser avaliado pelo fato de
ter tido quatro edições em 25 anos (1955-1980).
No Brasil, os primeiros
dicionários de medicina editados são, na verdade, tratados
de medicina popular, nos quais os tópicos se dispõem em ordem
alfabética. São eles o Dicionário de Medicina Popular
e das Sciencias Acessórias, de Pedro Luiz Napoleão Chernoviz,
e o Diccionario de Medicina Domestica e Popular, de Theodoro Langaard.
Chernoviz era polonês
de nascimento, tendo-se educado em Paris. Seu verdadeiro nome de família
era Czerniewicz, mudado depois para Chernoviz. Viveu no Brasil de 1840
a 1855, tendo publicado várias obras, das quais as mais importantes
foram o Formulário ou Guia Medica, que chegou a alcançar
dezenove edições, sendo três póstumas, e o dicionário
já referido, que desfrutou de grande prestígio e cuja 6ª
edição data de 1890.
Theodoro Langaard era médico
dinamarquês, radicado no Brasil, tendo publicado a 1ª edição
de seu dicionário em 1865 e a 2ª em 1873. Sua obra mereceu
comentários elogiosos de Von Martius, conforme consta do prefácio
da segunda edição.
Em 1905, o eminente médico
e filólogo Ramiz Galvão publicou o Vocabulario Etymologico,
Orthographico e Prosodico das Palavras Portuguesas Derivadas do Grego,
no qual se encontram arrolados os principais termos médicos em uso
na época.
Em 1917, Plácido
Barbosa publicou o seu Dicionário de Terminologia Médica
Portugueza, cuja finalidade principal, conforme consta na Introdução
do mesmo, era a de corrigir "os erros, os barbarismos, os vícios,
as deficiências, as impropriedades e os desacertos de que anda inçado
o vocabulário médico portuguez hoje em uso". Conforme o próprio
autor reconhece trata-se apenas de uma contribuição a um
futuro dicionário médico completo.
A primeira tentativa, infelizmente
malograda, de se editar no Brasil um dicionário médico de
maior amplitude data de 1923 e se deve a Serafim Vieira de Carvalho e Paulino
B. Vieira.[6]
Em 1926 foi publicado o
Dicionário
Enciclopédico de Medicina, de Ricardo d'Elia, obra pouco difundida.
O dicionário médico
que teve maior aceitação entre nós e alcançou
sucessivas edições foi o de autoria de Pedro A. Pinto, professor
de farmacologia da antiga Faculdade Nacional de Medicina (hoje Faculdade
de Medicina da Universidade Federal do Rio de janeiro). A 1ª edição
data de 1926 e a 8ª de 1962. Seu autor, que dizia não ser filólogo,
era profundo conhecedor da língua e da literatura clássica
portuguesas, tendo publicado inúmeros trabalhos e livros sobre questões
de linguagem. Na maioria dos verbetes de seu dicionário encontram-se
ensinamentos, conceitos e opiniões do próprio autor, o que
muito valoriza esta obra.
Outras contribuições
lexicográficas no campo da medicina surgiram no Brasil em anos posteriores,
tais como o Dicionário Médico, de Mário Rangel
(1951), o Dicionário Médico, de Hugo Fortes e Genésio
Pacheco (1968) e o Dicionário Médico, de Rodolpho
Paciornik (1969).
Algumas editoras, em diversos
países, têm publicado traduções de dicionários
médicos. De modo geral, as traduções de dicionários
médicos não são recomendáveis. Os textos explicativos
dos verbetes são, em geral, mal traduzidos, e neles se percebe a
língua de origem, descaracterizando o segundo idioma. Além
disso, não atentam para as peculiaridades da terminologia que o
uso consagrou em cada país.
O mais moderno dicionário
de termos médicos em língua portuguesa, editado em 1999,
é de autoria de Luis Rey e intitula-se Dicionário de termos
técnicos de medicina e saúde.
O dicionário em epígrafe
veio preencher uma lacuna no meio médico brasileiro e atender a
uma necessidade não somente do meio médico, como de outros
profissionais da área de saúde. O que põe em relevo
e valoriza sobremodo esta obra é o lastro científico na conceituação
dos termos averbados e sua feição enciclopédica e
didática. Nela, os verbetes têm um tratamento diferenciado,
abrangente, com definição precisa do seu significado, em
sua única ou várias acepções, dentro da especialização
semântica dos diferentes ramos das ciências biomédicas.
Nela, o leitor se instrui e se atualiza, qualquer que seja o termo consultado.
Para alcançar esta
alta qualidade, o autor contou com a colaboração de nada
menos de 98 especialistas, os quais, segundo suas próprias palavras
"contribuíram com seus conhecimentos científicos e com sua
experiência" e "pacientemente reviram cada item das respectivas disciplinas".
Outra característica
deste dicionário é a ênfase dada aos termos relativos
às doenças infecciosas e parasitárias, com ampla cobertura
da patologia tropical, o que atende à realidade nosológica
do nosso País. O autor seguiu a Nomenclatura Internacional das Doenças
do CIOMS/OMS, embora registre os sinônimos mais usados, com remissão
para o termo que deve prevalecer.
Ao final de cada verbete
encontra-se o termo equivalente em inglês, o que é muito importante
na época atual de hegemonia da língua inglesa nas comunicações
científicas e contribui para evitar os falsos cognatos que infestam
as traduções de livros técnicos no Brasil.
O dicionário do Prof.
Rey prima ainda pela clareza e correção da linguagem, perfeito
domínio do idioma pátrio e cuidadosa revisão tipográfica.
As questões lingüísticas mais polêmicas foram
tratadas com sabedoria e bom senso, sem as amarras do puritanismo vernáculo
e atentando para a tradição da linguagem técnica usada
em biologia e medicina. Citamos como exemplos as opções adotadas
para as palavras, acalásia, amilase, anquilose, autópsia,
catéter, colecistocinina, crossa, dengue (s.m.), diabetes (s.m.),
dissecção, espinhal, estádio, hemácia, lipídio,
má-absorção, óptico, parasito, peritônio,
retardo, entre outras.
Discordamos do Prof. Rey
somente em duas de suas opções. A primeira delas se refere
às palavras formadas com o determinado grego -soma,
tais como cromossoma, desmossoma, ribossoma, etc,
em que este radical foi modificado para -somo: cromossomo,
desmossomo,
ribossomo,
etc.. A segunda diz respeito à
tireóidee seus cognatos,
em que foi adotada a raiz -tireo, em lugar de tiro,
em desacordo com a Nomina Anatomica.
Retiraríamos também
o termo enfarte como sinônimo de infarto e consideraríamos
cólera,
doença, somente do gênero masculino.
Com estas poucas ressalvas,
o dicionário do Prof. Rey nos libera da tutela dos dicionários
gerais, cujos autores, embora profundos conhecedores da língua portuguesa,
ignoram as peculiaridades e a tradição da terminologia científica.
Conforme ressalta o Prof.
Idel Becker em seu livro Nomenclatura Biomédica no Idioma Português
do Brasil, este assunto é da competência exclusiva dos
profissionais da área biomédica. São as sociedades
científicas que devem procurar definir o significado de cada termo
técnico da área biomédica e decidir com conhecimento
de causa quanto à sua grafia e pronúncia.
O importante, quando consultamos
um dicionário, seja técnico ou geral, é que estejamos
conscientes de que nem sempre vamos encontrar tudo que desejamos; de que
o registro que buscamos pode revelar apenas um ponto de vista sobre uma
questão que comporta duas ou mais interpretações.
Devemos estar convictos de que os dicionários não são
infalíveis e que os seus ensinamentos podem ser questionados.
É importante que
façamos o cotejo entre um e outro léxico, que consultemos
mais de um autor, comparando o que escreveram sobre a mesma palavra. Por
vezes os textos são idênticos; por vezes há divergências
quanto à grafia, quanto à prosódia, quanto ao gênero
da palavra, quanto à etimologia, quanto à semântica.
Uns são mais completos que outros, ao assinalarem as diversas acepções
de um mesmo vocábulo, e mais ricos no exemplário das fontes
consultadas. Há dicionários de todo jaez, de épocas
diferentes, edições mais bem cuidadas que outras, com muitos
ou poucos erros tipográficos.
Assim, ao nos referirmos
a um dicionário, é necessário mencionar sempre o autor,
a edição, o editor e o ano da publicação.
No tocante à terminologia
médica, nós médicos devemos manter certa independência
e espírito crítico em relação aos dicionários
gerais que fazem incursões pela terminologia científica.
De modo geral, tais dicionários definem de maneira incompleta, ou
mesmo incorreta, o significado de termos médicos, além de
impor normas de como escrever ou pronunciar tal ou qual palavra, ao arrepio
do uso e da tradição da linguagem médica.
Referências bibliográficas
(restritas às consideradas essenciais)
1. HOUAISS, A. - Estudos vários sobre palavras,
livros, autores. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979, p. 104.
2. MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO - História
da tipografia no Brasil. São Paulo, Secretaria de Cultura, Ciência
e Tecnologia, 1979, p. 178.
3. MORTON, Leslie T.: A medical bibliography (Garrison
and Morton), 4.ed. London, Gower, 1983, p. 902.
4. MANGABEIRA-ALBERNAZ, P. - Questões de linguagem
médica. Rio de Janeiro, Liv. Atheneu, 1944, p. 171.
5. SKINNER, H.A. - The origin of medical terms, 2.ed.
Baltimore, Williams & Wilkins, 1961, p. 435-437.
6. ALMEIDA, S., VIEIRA, P.B. - Dicionário de termos
médicos. Rev. de Língua Portuguesa, ns. 21 a 39, 1923-1925.