LINGUAGEM MÉDICA

ECODOPLERCARDIOGRAMA


        Embora se trate de um fenômeno facilmente observável, ao alcance do leigo, a aparente mudança de frequência da onda sonora produzida pelo deslocamento da fonte emissora, o mesmo só foi cientificamente descrito  em 1842, pelo físico austríaco  Johann Christian Andréas Doppler e, por isso, recebeu a denominação de efeito Doppler, o qual é observado tanto em relação ao som como à luz e ondas eletromagnéticas. O fenômeno foi por ele descrito na obra intitulada Über das farbige Licht der Doppelsterne.(1)
        A utilização do efeito Doppler nos modernos ecocardiógrafos tornou necessária a criação de um novo termo ou expressão para designar esta nova modalidade de ecocardiografia. Na língua inglesa a solução encontrada foi a de antepor o nome do físico: Doppler echocardiography(2). Na língua portuguesa tem sido usado ecodoplercardiografia e ecodoplercardiograma, com um ou dois p.
        Quando alguém faz uma descoberta importante ou inventa algum dispositivo útil, é frequente vincular-se a descoberta ou invenção ao nome do autor. De modo geral, cria-se um epônimo, como feixe de His, sinal de Babinski, manobra de Valsalva, pinça de Halsted, operação de Wertheim, etc.
        Pode ocorrer, ainda, que o nome do autor se transfira para a própria descoberta ou invenção. Para citar apenas alguns exemplos: Luigi Galvani deu origem ao galvanômetro. A unidade de potência elétrica e térmica watt foi assim chamada em homenagem ao engenheiro escocez James Watt. Hans Gram perpetuou-se no método de coloração por ele idealizado, depois do qual as bactérias passaram a ser gram-positivas e gram-negativas. Na Alemanha os raios-X são chamados raios Roentgen em homenagem ao seu descobridor Wilhelm Konrad Roentgen e se diz Roentgengraphie, Roentgenologie, em lugar de radiografia, radiologia.O índice apgar de avaliação da vitalidade dos recém-nascidos, foi criado em 1953 pela anestesista norte-americana Virgínia Apgar
        Nessa linha de raciocínio, Doppler deixou de ser o nome de um físico para designar o fenômeno por ele descrito. E assim sendo, pode entrar na composição de uma nova palavra como ecodoplercardiograma ou ecodoplercardiografia.
        Considerando que, em português, à exceção de r e s, não se usam consoantes dobradas, deve escrever-se a palavra com um único p – ecodoplercardiograma.
        É óbvio que ecocardiograma com dopler seria uma expressão correta, porém a tendência da língua, pela lei do menor esforço, é para a simplificação, o que favorece a preferência por uma palavra única.
        Sou de parecer que devemos aceitar ecodoplercardiograma e seus cognatos, muito embora não estejam dicionarizados. A palavra final deve caber aos cardiologistas.
 
 

Referências Bibliográficas

1. DOPPLER, J.C.A. Über das farbige Licht der Doppelsterne (Sobre as Cores da Luz Emitida pelas Estrelas Duplas), 1842.
2. DORLAND'S ILLUSTRATED MEDICAL DICTIONARY, 28th ed. Philadelphia, W.B. Saunders  Co., 1994.
 
 
 
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
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