ENQUANTO
Enquanto é
conjunção subordinativa temporal que indica contemporaneidade
passada, presente ou futura, na dependência do tempo verbal. Traz
em si a idéia de condição ou situação
de duração transitória. Equivale a "quando",
"no tempo em que", "durante o tempo em que".[1]
Exemplos:
"Enquanto fui diretor
nada disso acontecia".
"Devo estudar enquanto
não estou trabalhando."
"Enquanto viver,
lutarei por esta causa."
Também se emprega
enquanto
como conjunção adversativa em substituição
a "ao passo que". Exemplo: "Este projeto é bem fundamentado,
enquanto
o
outro apresenta falhas."[1]
Em alguns dicionários
encontram-se ainda exemplos do emprego de enquanto com o sentido
de "sob o aspecto de", "considerado como".[2][3]
Em linguagem literária,
assim como em ciências sociais e na linguagem cotidiana dos meios
de comunicação emprega-se "enquanto" para caracterizar relações
atemporais e atributos permanentes, em substituição a "como", "na
condição de", "na qualidade de".
Exemplos:
"A televisão, enquanto
meio de comunicação..."
"A medicina enquanto
ciência..."
A idéia é
de a de restringir a um determinado atributo, aspecto ou qualidade do sujeito todo
o enunciado da oração.
Tal emprego deve ser evitado
em linguagem técnico-científica a fim de fugir à ambiguidade
de sentido.
Exemplo:
"O paciente, enquanto tuberculoso,
apresentou sintomas depressivos".
Ficamos sem saber se o paciente
apresentou sintomas depressivos quando estava tuberculoso ou na condição
de tuberculoso.
A linguagem técnico-científica
exige clareza e precisão, o que não se evidencia no exemplo
citado.
Mesmo fora da linguagem
técnica, há restrições ao emprego de "enquanto"
em relações atemporais.
Eduardo Martins, em seu
excelente Manual de Redação e Estilo, recomenda: "Evite
(por se tratar de sentido erudito que se está tornando modismo)
o uso de enquanto como sob o aspecto de em frases deste tipo:
Fez
um retrato do escritor enquanto intelectual...Falou sobre a filosofia enquanto
ciência."[4]
Também Ledur e Sampaulo,
em seu interessante livro "Os pecados da língua",
dão o seguinte exemplo: A política enquanto ciência
é construtiva, e comentam: "É comum autores de textos
usarem
enquanto em vez de como, talvez por terem enjoado
de como
e enquanto parecer mais rebuscado. Cuidado!
Enquanto
implica
contemporaneidade, tempo, não podendo ser usado no sentido de como.
Por isso: A política como ciência é construtiva".[5]
Na linguagem médica
é recomendável usar-se "enquanto" somente como conjunção
subordinativa temporal.
Ex.: Em lugar de "Enquanto
médico devo expressar-me com clareza", dizer: "Na condição
de médico devo expressar-me com clareza", ou "como médico devo expressar-me com clareza".
Referências bibliográficas
1. ALMEIDA, N.M. - Dicionário de Questões
vernáculas. São Paulo, Ed. "Caminho Suave" Ltda., 1981.
2. FERREIRA, A.B.H. - Novo dicionário da língua
portuguesa, 3.ed. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1999.
3. HOUAISS, A., VILLAR, M.S. - Dicionário Houaiss
da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
4. MARTINS, E. - Manual de redação e estilo,
3. ed. São Paulo, Editora Moderna, 1997, p. 107.
5. LEDUR, P.F., SAMPAULO, P. - Os pecados da língua.
Pequeno repertório de grandes erros de linguagem, 3º vol.,
2.ed., Porto Alegre, ACE Editora, 1995, p. 37
Publicado no livro Linguagem Médica, 3a. ed., Goiânia, AB Editora
e Distribuidora de Livros Ltda, 2004..
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História
da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br
10/9/2004. Atualizado em 29/4/2007