LINGUAGEM MÉDICA

FALSO-POSITIVO, FALSO-NEGATIVO

        Com frequencia devemos nos referir ao resultado de um exame laboratorial como falsamente positivo ou negativo e usamos as expressões falso positivo e falso negativo.

        Quando se trata de uma determinada reação ficamos em dúvida sobre a forma correta: Falso positiva ou falsa positiva? Falso negativa ou falsa negativa? A dúvida é ainda maior quando devemos usar a expressão no plural: Falso positivos ou falsos positivos? Falso negativos ou falsos negativos?

        Antes de mais nada devemos indagar a que classe gramatical pertence cada uma das palavras. Obviamente à classe dos adjetivos. Trata-se de um adjetivo composto. Nesse caso os dois adjetivos devem estar unidos por um hífen e a decisão torna-se mais fácil, pois a gramática nos ensina que, quando os compostos são formados de dois adjetivos, só o último deve flexionar. Escreveremos, então, falso-positivo, falso-positiva, falso-positivos, falso-positivas, falso-negativo, falso-negativa, falso-negativos, falso-negativas.

        Não usando o hífen, temos dois adjetivos independentes, o primeiro dos quais assume função adverbial. "É propriedade de nossa língua usar o adjetivo como voz invariável com força de advérbio"... "O rigor gramatical não admitiria uma justaposição de dois adjetivos, um dos quais precisa e determina o outro; o determinativo deve então assumir a forma de advérbio", ensina Mário Barreto.[1]

        Portanto, falso, adjetivo, substitui falsamente, advérbio, nas expressões falso positivo, falso negativo e congêneres.

        Tendo função adverbial, o primeiro adjetivo deveria permanecer invariável nas flexões de gênero e número e as formas corretas seriam semelhantes às mencionadas com o uso do hífen. Entretanto, em virtude de uma atração gramatical, é comum flexionar-se o primeiro adjetivo, como se o mesmo não tivesse função de advérbio.

        A forma flexionada - é ainda Mário Barreto quem nos ensina - "por ser do uso vivo da língua e da pena dos mestres, tem direito a andar imune da censura dos gramáticos" [1]

        Assim, podemos admitir como corretas todas as formas, com ou sem flexão do primeiro adjetivo, desde que não se empregue o hífen. Usando-se o hífen, o primeiro adjetivo deve permanecer invariável.

        Resta-nos saber se é lícito o uso do hífen neste caso. A nova ortografia em vigor estabelece que se deve empregar hífen  "nas palavras compostas  por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio".[2]

        Tudo depende, portanto, de interpretação. Se considerarmos falso-positivo como uma nova unidade sintagmática e semântica justifica-se o uso do hífen; caso contrário, não.O uso do hífen em compostos é assunto bastante controverso. [3]
 

Referências bibliográficas

1. BARRETO, Mário - Novíssimos estudos da língua portuguesa, 3. ed. fac-similar. Rio de Janeiro, INL/Presença, 1980, p. 318.
2. BRASIL. Acordo Ortográfico. Decreto n. 6583, de 29/09/2008.
3. JOTA, Zélio dos Santos - Dicionário de lingüística, 2.ed. Rio de Janeiro, Presença, 1981, p. 165.

 Modificado do livro Linguagem Médica, 3a. ed., Goiânia, AB Editora e Distribuidora de Livros Ltda, 2004..  

Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br

10/9/2004.