LINGUAGEM MÉDICA
IMUNODEPRESSÃO,
IMUNOSSUPRESSÃO
Os dois termos acima têm sido empregados indistintamente para caracterizar a deficiência do sistema imunitário. Embora tenham o mesmo conteúdo semântico, como termos médicos não devem ser considerados sinônimos. Quando devemos empregar um ou outro?
Define-se imunodepressão como um estado de deficiência do sistema imunitário para responder normalmente aos agentes agressores, A imunodepressão pode ser primária e secundária ou adquirida (1,2). É primária quando dependente de fatores genéticos hereditários que afetam o processo de defesa imunológica, causando maior susceptibilidade às infecções, geralmente por germes de baixa patogenicidade, assim, às doenças autoimunes e às neoplasias. Na maior parte das vezes manifesta-se na infância.
A forma adquirida, como o próprio nome indica, deve-se a um fator externo que afeta o sistema imunológico e é exemplificada pela Síndrome de Imunodeficiência Adquirida causada pelo vírus HIV-1; manifesta-se igualmente por grande susceptibilidade às infecções por germes oportunistas e neoplasias.
Imunossupressão é o ato de reduzir deliberadamente a atividade ou eficiência do sistema imunológico.A imunossupressão é geralmente feita para coibir a rejeição em transplantes de órgãos, ou para o tratamento de doenças autoimunes como lúpus, artrite reumatóide, esclerose sistêmica, doença inflamatória intestinal, entre outras. A imunossupressão é normalmente feita com medicamentos, mas pode também utilizar outros métodos, como plasmaferese ou radiação. Com o sistema imunológico praticamente desativado, o indivíduo imunossuprimido fica vulnerável a infecções oportunistas.
A cortisona foi o primeiro
imunossupressor a ser usado, porém sua ampla gama de efeitos colaterais limitou
seu uso. A azatioprina, mais específica, foi lançada em
Dentre os dicionários modernos, o Aurélio (3) considera sinônimos imunodepressão e imunossupressão, dando preferência a imunodepressão para rotular todos os casos de imunodeficiência.
Já Houaiss diferencia muito bem os dois termos (4). Vejamos o que diz o mestre:
imunodepressão
atenuação das reações imunitárias do
organismo, que se observa no curso de certas doenças, como câncer, AIDS etc. [A
imunodepressão é impropriamente tomada por alguns como sinônimo de
imunossupressão]
Obs.: cf. imunossupressão
imunossupressão
supressão das reações imunitárias do
organismo, induzida por medicamentos (corticosteróides,
ciclosporina A etc.) ou agentes imunoterápicos
(anticorpos monoclonais, soros antilinfocitários
etc.), que é utilizada em alergias, doenças auto-imunes etc. [A imunossupressão
é impropriamente tomada por alguns como sinônimo de imunodepressão.]
Obs.: cf. imunodepressão
Esta distinção
nem sempre é observada por autores de artigos científicos indexados na base de
dados da BIREME. Citaremos dois exemplos em que se usou imunodepressão por
imunossupressão e dois outros em que ocorreu o inverso.
Imunodepressão por imunossupressão:
1. Carvalho, João Batista Vieira
de; Petroianu, Andy. Imunodepressão induzida por
talidomida e ciclosporina em transplante cardíaco heterotópico de coelho.
Rev. Col.
Bras. Cir;30(2):106-113, 2003.
2. Garcia, Maurício; Sertório, Silvio P; Alves, Glaucie
J; Chate, et al. Uso da ciclofosfamida em modelo de imunodepressão experimental
Imunossupressão por
imunodepressão:
1. Böelke, Maristela. Imunossupressäo
induzida pela malária: existe um papel para o óxido nítrico? Rev. bras. alergia imunopatol; 22(6):173-8, 1999.
Toxoplasmose do sistema nervoso central em paciente sem
evidência de imunossupressäo: relato de caso. Rev. Soc. Bras. Med. Trop;34(5):487-490, set.-out. 2001.
Outros autores, como Luis Rey,(5) consideram imunodepressão um termo de sentido mais amplo e imunossupressão um termo mais específico, como se depreende do exposto no verbete imunodepressão de seu dicionário: ...”Ela pode ser decorrente de processos patológicos ou da utilização terapêutica de produtos e técnicas imunossupressoras”. E no verbete imunossupressão inclui a “inibição espontânea da resposta normal do sistema imunológico frente a certos antígenos”.
A bem da uniformidade e da precisão da linguagem médica, somos de parecer que se deve adotar a distinção entre os dois termos, tal como se encontra no dicionário Houaiss.
Referências
bibliográficas
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br
27/03/2011