LINGUAGEM MÉDICA
INTUMESCER,
ENTUMESCER, ENTUMECER
O prefixo latino in-deu origem em português às formas prefixais in- e en-. Estas formas transmudam-se em im- e em- antes de b e p, enquanto
in-altera-se em ir-
antes de r e em il- antes de
l . [1]
In-, em latim, representa, na
realidade, dois prefixos distintos. O primeiro, usado
habitualmente em formações adjetivas, tem o sentido de negação. Ex.: indócil,
imberbe, impúbere, ilegal, irregular. O segundo, muito mais produtivo, traduz o
surgimento de um estado novo (ex.: empalidecer) ou uma situação de movimento
(ex.: imergir, investir, inverter).
Intumescer deriva do verbo latino intumescere, formado, por sua vez, do prefixo in- e do verbo tumescere,
inchar, crescer.
Em português são usadas as formas
sincréticas intumescer, entumescer e entumecer. A forma intumecer
(com i na primeira sílaba e sem a letra s na penúltima
sílaba) não se encontra dicionarizada.
É interessante assinalar que a
vacilação quanto à forma já é encontrada em dicionários do século XIX [2][3] e persiste nos léxicos mais modernos, nos quais se
encontram averbadas duas ou três formas.
Silveira Bueno [4] registra entumecer e menciona que a verdadeira grafia deve
ser entumescer. Por que, então, não a teria
adotado? Paralelamente, averba intumescer e intumescência.
O Vocabulário Ortográfico daAcademia Brasileira de
Letras [5] registra entumecer e entumescer, porém com remissão para intumescer,
optando, assim, por esta forma, que é a que mais se aproxima do vocábulo
latino e deve, por isso mesmo, ser preferida.
Obviamente todos os cognatos devem
manter a mesma estrutura mórfica: intumescência, intumescimento,
intumescente, intumescido.
Referências bibliográficas
1. ROMANELLI, R.C. - Os prefixos latinos.
Belo Horizonte, Imprensa da Universidade Federal de Minas Gerais, 1964.
2. MORAES SILVA, A. - Dicionário da língua portugueza. Lisboa, Typographia Lacerdina, 1813.
3. VIEIRA, D. - Grande dicionario portuguez ou Thesouro da língua portugueza.
Porto, Ernesto Chardron e Bartholomeu
H. de Moraes, 1871-1874.
4. BUENO, F.S. - Grande dicionário
etimológico-prosódico da língua portuguesa. São Paulo, Ed. Saraiva,
1963.
5. ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS - Vocabulário
ortográfico da língua portuguesa, 3. ed. Rio de
Janeiro, Imprensa Nacional, 1999.
Publicado no livro Linguagem Médica, 3a. ed., Goiânia, AB Editora e
Distribuidora de Livros Ltda, 2004..
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br
10/9/2004.