FORMA SIMPLIFICADA DO JURAMENTO DE HIPÓCRATES
Textos abreviados do juramento
de Hipócrates têm sido utilizados em diferentes países
e idiomas, tendo em vista a extensão do texto original para leitura
durante uma solenidade festiva como a da conclusão do curso médico.
No Brasil, a maioria das
Faculdades utilizam um modelo simplificado, tradução de um
texto latino que, segundo o Prof. Edmundo Vasconcelos (Rev. Paul. Med.
83:196-204, 1974), chegou a ser usado na Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo. A tradução vernácula desse texto
é do seguinte teor:
Prometo que, ao exercer
a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade,
da caridade e da ciência.
Penetrando no interior
dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará
os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de
honra.
Nunca me servirei da
profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime.
Se eu cumprir este juramento
com fidelidade, goze eu, para sempre, a minha vida e a minha arte, com
boa reputação entre os homens.
Se o infringir ou dele
afastar-me, suceda-me o contrário.
Uma variante desse texto tem livre curso em nossas Faculdades e é encontrado nos convites de formatura. Difere do primeiro em um pequeno detalhe de redação, que, entretanto, modifica inteiramente o sentido da frase. Está assim redigido:
Prometo que, ao exercer
a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade,
da caridade e da ciência.
Penetrando no interior
dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará
os segredos que me forem revelados, os quais terei como preceito
de honra.
Nunca me servirei da
profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu
cumprir este juramento com fidelidade, goze eu, para sempre, a minha vida
e a minha arte, com boa reputação entre os homens.
Se o infringir ou dele
afastar-me, suceda-me o contrário.
Comparando-se as duas versões,
vê-se que a única diferença está no segundo
parágrafo e consiste na substituição da locução
pronominal o que pela locução os quais.
Na primeira versão,
o
que refere-se ao enunciado na frase anterior, ou seja, expressa a intenção
do médico de guardar sigilo em relação ao que vê
e ao que ouve no interior dos lares.
Na segunda versão,
a locução pronominal os quais, no plural, tem como
antecedente
"os segredos que me forem revelados". Ora, não faz o menor sentido
fazer "dos segredos que me forem revelados" "preceito de honra." É
fora de dúvida que esta construção está gramaticalmente
incorreta e deve ser abandonada em favor da primeira.
Em um levantamento que fizemos
em 28 Faculdades de Medicina que utilizam este modelo simplificado, nove
(32,1%) adotam a primeira versão, enquanto 18 (64,3%) optaram pela
segunda versão, que nos parece incorreta. Uma única Faculdade
(3,6%) usa aos quais, locução igualmente inadequada.
Em face do exposto, cumpre-nos
alertar as Comissões de Formatura dessas Faculdades que usam os
quais, ou aos quais, em lugar de o que, para que façam
a devida correção e utilizem a versão gramaticalmente
correta.
Publicado no livro Linguagem Médica, 3a. ed., Goiânia, AB Editora
e Distribuidora de Livros Ltda, 2004..
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História
da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br
10/9/2004.