LINGUAGEM MÉDICA
 

DISFAGIA LUSÓRIA


        Por que lusória?
        A disfagia lusória foi descrita por Bayford em 1789.[1] Este autor teve a oportunidade de acompanhar um paciente com disfagia, no qual descobriu uma anormalidade da artéria subclávia direita, que nascia da aorta torácica descendente e passava entre a coluna vertebral e o esôfago.
        Posteriormente, Autenrieth e outros autores estenderam a denominação latina de lusoria a toda disfagia produzida pelas diversas anomalias do arco aórtico. Arkin, em 1933, tendo em conta a multiplicidade dessas variações anatômicas e a inconstância da disfagia, propôs denominar de artéria lusória a qualquer artéria anômala nascida do arco aórtico. A afecção é, por isso, também chamada de disfagia de Bayford-Autenrieth ou doença de Arkin..[2]
        Lusória provém do latim lusorius, a, um, relativo a jogo, brinquedo, divertimento, termo que se liga ao verbo ludo, ludere,cujo particípio passado é lusus, a, um, e cujo significado é divertir-se, brincar, zombar, iludir, enganar, lograr. Lusus é também substantivo, usado com o sentido de jogo, divertimento, recreação, brinquedo.
        Foi nesse sentido que Bayford buscou no latim o adjetivo lusoria, querendo significar um divertimento da natureza ao desviar-se do padrão anatômico normal (lusus naturae).
        Encontra-se a confirmação desta assertiva em mais de uma fonte. Terracol diz textualmente: "Cette dysphagie découverte à l'époque des jeux de la nature devint la dysphagie lusoria".[1]
        Em Medizinische Terminologie, de Guttmann, lê-se: "Dysphagia lusoria, weil hier ein Lusus naturae vorliegt" (porque aqui existe um jogo da natureza). O mesmo autor traduz a expressão latina Lusus naturae para o alemão, por Naturspiel, e explica que se trata de pequenas variações do normal.[3]
        No Dizionario dei Termini Tecnici di Medicina, de Garnier e Delamare (tradução italiana), encontra-se a seguinte explicação: "Disfagia lusoria ... Bayford, che ha descritto questa disfagia nel 1789, l'attribuiva ad uno scherzo della natura".[4]
        Conforme o Churchill's Medical Dictionary, "the latin adjective lusoria is derived from lusus, play, sport, referring here to a sport of nature or congenital anomaly".[5]
        Assim, apesar da semelhança gráfica e sônica, lusória nada tem a ver com ilusória. A disfagia é real e se deve a uma causa mecânica, a uma anomalia congênita.

Referências bibliográficas

1.TERRACOL, J.: Les maladies de l'oesophage. Paris, Masson et Cie., 1938, p. 149
2. JABLONSKI, Stanley: Illustrated dictionary of eponymic syndromes and diseases and their synonymes. Philadelphia, Saunders, 1969, p. 22.
3. GUTTMANN, Walter: Medizinische Terminologie, 4.ed. Berlin, Urban & Schwarzenberg, 1911.
4. GARNIER, M. & DELAMARE, V.: Dizionario dei termini tecnici di medicina, 4.ed. (trad.). Roma, Marrapese, 1979.
5. CHURCHILL'S MEDICAL DICTIONARY. New York, Churchill Livingstone, 1989.

  Publicado no livro Linguagem Médica, 3a. ed., Goiânia, AB Editora e Distribuidora de Livros Ltda, 2004..  

Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br

10/9/2004.