LINGUAGEM MÉDICA


REFORMA ORTOGRÁFICA


        A reforma ortográfica, promulgada recentemente pelos países de fala portuguesa,  com o objetivo de unificação da ortografia na comunidade lusófona, entrou em vigor no Brasil a partir de 1o. de janeiro de 2009, conforme o Decreto n. 6.583, de 29 de setembro de 2008. O alfabeto voltou a ter oficialmente as letras k, w e y, para uso exclusivo na grafia de palavras estrangeiras e abreviaturas de unidades de medida.
        As alterações introduzidas na reforma ortográfica que afetam a terminologia médica dizem respeito principalmente à acentuação das palavras e ao emprego do hífen. Resumimos a seguir as novas regras que substituem as antigas, referentes a esses dois itens.

 Acentuação

        1. O trema foi abolido. Ex.: consequência, equidistante, frequente, sanguíneo.
        2. Os ditongos abertos ei, oi nas palavras paroxítonas não são mais acentuados.
            Ex: traqueia, dispneia, ureia, amenorreia, paranoia, alcaloide, proteico.
        Mantém-se o acento, entretanto, nas palavras oxítonas com esses ditongos,
            assim como nas palavras com ditongo aberto eu.
            Ex.: anéis, papéis, dói, corrói; véu, céu, troféu.
        3. Os hiatos ee e oo não são mais acentuados. Ex.: veem, leem, voo, enjoo.
        4. Desaparece o acento diferencial como em pára (verbo) e pêlo (substantivo),
            exceção do verbo pôr (para distinguir da preposição por) e pôde (no passado, para distinguir do presente pode).
        5. Acentuam-se as vogais i e u quando antecedidas de vogal com a qual não formam ditongo.
            Ex.: cafeína, proteína, raízes, ruído.
        6. Levam acento agudo as palavras oxítonas com mais de uma sílaba terminadas no ditongo nasal –em ou –ens:
            Ex.: também, porém, refém, reféns, harém, haréns, detém, deténs, retém, reténs.
            Excetuam-se as formas da 3a pessoa do plural do presente do indicativo dos verbos ter e vir, e de seus compostos, que recebem
            acento circunflexo.  Ex.: têm, vêm, detêm, retêm, sustêm; advêm, provêm.
        7. As palavras proparoxítonas com as vogais tônicas e e o, seguidas de consoante nasal m ou n,
            recebem acento agudo ou circunflexo conforme a sua pronúncia em cada país.
            Ex.: Em Portugal -  anatómico, homogéneo, oxigénio, ozónio.
                   No Brasil - anatômico, homogêneo, oxigênio, ozônio.
Hífen

        1. Não se usa hífen em palavras compostas de prefixos terminados em vogal quando o segundo elemento
            inicia-se por consoante ou outra vogal diferente.
            Ex.: autovacina, autoimune, antidiarreico, antiarrítmico, comorbidade, coautor, extracelular, extrauterino,
                   infravermelho, infraumbilical, intramuscular, intraosseo, neotalâmico, neoestriado, semiaberto,
                   semipronação, supraventricular, supraespinhal.
        2. Mantém-se o hífen, entretanto, quando as vogais são idênticas ou quando o segundo elemento inicia-se por h.
            Ex.: extra-articular, infra-axilar, intra-arterial, anti-inflamatório, semi-inconsciente,  auto-hemoterapia,
                   anti-helmíntico, infra-hepático.
            Faz exceção o prefixo co. Ex.: coordenação, cooperativo.
        3. Não mais se usa hífen em palavras formadas de prefixos terminados em vogal,
            seguidos de palavras iniciadas por r ou s. Em tais casos essas consoantes devem ser duplicadas.
            Ex.: extrarrenal,  suprarretal, extrassístole, protossístólico, semissólido,  ultrassonografia.
        4. O hífen é mantido:
            a) Nas palavras compostas por justaposição. Ex.: cirurgião-barbeiro.
            b) Nas palavras compostas que designam plantas e animais.
                Ex.: erva-doce, laranja-lima, cavalo-marinho, cão-de-guarda.
            c) nos compostos com os prefixos ex, vice, pré, pós, recém, aquém, além.
                Ex.: ex-aluno, vice-diretor, pré-operatório, pós-parto, recém-nascido.
            d) Nos compostos com os advérbios bem e mal, quando o segundo elemento
                inicia-se por vogal ou h.
                Ex.: bem-estar, mal-estar, bem-humorado, mal-humorado.
            e) Nos compostos com os prefixos hiper, inter e super quando o segundo
                elemento inicia-se pela letra r. Ex.: hiper-reativo, super-resistente, inter-relação.
            f)  Nos compostos com os prefixos circum e pan quando a palavra seguinte inicia-se por vogal, m ou n.
                Ex.: circum-anal, circum-esofagiano, pan-hipituitarismo, pan-mastite, pan-oftalmia.
           g)  O prefixo sub exige hífen antes das palavras iniciadas por b ou h.  Ex.: sub-biotipo, sub-hepático.

        As palavras formadas com temas nominais gregos e latinos continuam sem hífen, mesmo que contenham
mais de dois elementos. Ex: anatomopatológico, angiocoronariografia, esofagogastroduodenoscopia,  laringotraqueobronquite, gastroenteroanastomose,  razdioimunoensaio, ureterotrigonossigmidostomia.

        Fica a impressão de que houve uma simplificação em relação à norma anterior. As dificuldades iniciais serão apenas de adaptação às novas regras. A Academia Brasileira de Letras deverá publicar em breve uma nova edição do Vocabulário oficial de acordo com a nova ortografia.
        As editoras terão prazo até 31 de dezembro de 2012 para adotarem em definitivo as mudanças da ortografia. Até lá coexistirão a norma ortográfica vigente e a nova norma estabelecida. 

        O texto integral do Acordo Ortográfico que acompanha o decreto 6.583, de 29/09/2008, encontra-se disponível na Internet, no seguinte endereço: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6583.htm
 


Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br