LINGUAGEM MDICA

ARTRPODO, ARTRPODE

        Artrpodo (ou artrpode) vem do grego arthrs, articulao + pous, pods, p. Etimologicamente, portanto, significa "ps articulados".
        Os artrpodos so o maior grupo de animais existente no mundo, tendo sido descritas cerca de um milho de espcies, ou seja, mais de 3/4 de todas as espcies existentes no reino animal, desde formas microscpicas do plncton, at animais de grandes dimenses. Incluem insetos, aracndeos, crustceos e outras formas semelhantes caracterizadas por cobertura quitinosa e apndices articulados.
        Muitos artrpodos so de interesse mdico por seu papel de vetores na transmisso de doenas infecciosas e parasitrias ao homem.
        Na classificao da Comisso Internacional de Nomenclatura Zoolgica (ICZN), redigida em latim como toda nomenclatura cientfica, os artrpodos formam o Phyllum Arthropoda, subdividido em nveis taxonmicos de classes, ordens, famlias, gneros e espcies.
        Na literatura mdica redigida em portugus encontramos tanto a forma artrpodo(s) como artrpode(s). Essa duplicidade existe para todos os compostos formados com a raiz grega pos, pods, tais como podo, braqupodo, cefalpodo, hexpodo, miripodo, pseudpodo. Qual seria a forma prefervel?
        Na nomenclatura cientfica muitos termos procedem diretamente do grego, sem trnsito pelo latim, enquanto outros, embora formados com razes gregas, nos vieram atravs do latim.
        Os lxicos da lngua portuguesa, de modo geral, abonam somente a forma artrpode(s) [1-8]. Os dicionrios de Silveira Bueno [9] e de Jos Pedro Machado [10] registram as duas formas, porm com destaque para artrpode.
        Ramiz Galvo nos esclarece porque na lngua portuguesa se deve usar artrpode e no artrpodo. So suas as seguintes palavras (com adaptao ortografia atual).
       "Tendo recebido este e outros vocbulos congneres pelo latim cientfico, e respeitando as regras da analogia, no pode o portugus deixar de graf-los com a desinncia es, originada do acusativo latino".[1]
        Se o termo procedesse diretamente do grego, no haveria dvida de que deveria ser artrpodo.
        "Essa dualidade de origem", explica-nos Houaiss, "tem criado instabilidade com este pospositivo [pod(s)] que, como se v...pode apresentar-se como -pode, -podo, -poda..;
        ponto pacfico, porm, que uma padronizao deste pospositivo deveria levar em conta o uso quantitativo dominante." [6] D como exemplo de palavra com as trs formas antpoda, que tambm pode ser antpode e antpodo.
        possvel que tambm tenha contribudo para consolidar a forma artrpode a grande influncia exercida no passado em nosso idioma pelo francs (arthropode).
        Apesar do posicionamento dos nossos lexicgrafos, filiando os compostos da raiz grega pods ao latim, artrpodo tem sido empregado paralelamente artrpode na literatura cientfica da rea biolgica. Nem mesmo as publicaes especializadas seguem uma padronizao, ficando a critrio de cada autor usar uma outra forma.
        Consultando o site de busca Google, verificamos que, em portugus, a forma artrpode no singular ocorre na proporo de 23:1 em relao a artrpodo, enquanto no plural essa proporo cai para 4:1. J em espanhol predomina de maneira absoluta a forma artrpodo(s), como se o termo proviesse diretamente do grego, sendo excepcional a forma artrpode(s). A proporo de 1:800 no singular e 1:1.150 no plural.
        Nos Descritores em Cincias da Sade da BIREME consta somente a palavra no plural, sendo artrpodes para o portugus, artrpodos para o espanhol e arthropods para o ingls.
        Se formos seguir o conselho de Houaiss de nos basearmos no uso quantitativo dominante, a forma artrpode(s) deve ser adotada como padro em portugus.
 

Referncias bibliogrficas

1. GALVO, B.F. Ramiz - Vocabulrio etymologico, ortographico e prosodico das palavras portuguesas derivadas da lngua grega. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1909.
2. PINTO, Pedro A. - Dicionrio de termos mdicos, 8. ed. Rio de Janeiro, Ed. Cientfica, 1962.
3. AULETE, F.J. Caldas , GARCIA, Hamilcar de - Dicionrio contemporneo da lngua portuguesa, 3.ed. Rio de Janeiro, Ed. Delta, 1980.
4. MICHAELIS - Moderno dicionrio da lngua portuguesa. So Paulo, Cia. Melhoramentos, 1998.
5. FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda - Novo dicionrio da lngua portuguesa, 3.ed. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1999.
6. HOUAISS, Antnio, VILLAR, Mauro de Salles Dicionrio Houaiss da lngua portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
7. ACADEMIA DAS CINCIAS DE LISBOA - Dicionrio da lngua portuguesa contempornea. Lisboa, Ed. Verbo, 2001.
8. ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS - Vocabulrio ortogrfico da lngua portuguesa, 3.. ed. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1999.9. BUENO, Francisco da Silveira - Dicionrio escolar da lngua portuguesa, 11.ed. Rio de Janeiro, MEC/FENAME, 1980.
10. MACHADO, Jos Pedro - Dicionrio etimolgico da lngua portuguesa, 3.ed. Lisboa, Livros Horizonte, 1977.
11. INTERNET. Site de busca Google. Consulta em 10/10/2006.
12. BIREME. Base de dado LILACS. Disponvel em http://bases.bireme.br/. Consulta em 10/10/2006.


Publicado no livro Linguagem Mdica, 4a. ed., Goinia, Ed. Kelps, 2011.  

Joffre M de Rezende
Prof. Emrito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Gois
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br