CINTILOGRAFIA, CINTIGRAFIA
CINTILOGRAMA, CINTIGRAMA
Trata-se de mais um caso de duplicidade de um mesmo termo.
Em francês e italiano existem igualmente as duas formas; scintigraphie e scintillographie em francês;[1] scintigrafia e scintillografia em italiano.[2] Em espanhol o dicionário de Leon Braier registra escintilografia ou centelleografia, e escintigrama,[3] porém a maioria dos autores de artigos científicos utiliza cintigrafia e cintigrama.[4] Em inglês, usa-se scintigraphy e scintigram.[5]
A palavra cintilografia formou-se a partir do latim scintilla, centelha, e do grego grapho, escrever, registrar, enquanto cintilograma formou-se de scintilla + gramma, gráfico, registro. Ambas são, portanto, palavras híbridas.
A cintilografia (ou cintigrafia) é um método de investigação clínica que consiste na injeção endovenosa ou ingestão de uma substância radioativa com afinidade eletiva para determinado órgão ou tecido, permitindo o estudo da distribuição topográfica do isótopo radioativo nesse órgão ou tecido por meio de um detector especial chamado câmara de cintilação ou gama-câmara. O método tornou possível o estudo anatômico e funcional de vários órgãos e tecidos, como a tiróide, rim, fígado, pulmões e cérebro, bem como o trânsito no trato digestivo, especialmente no esôfago e estômago.
Cintigrafia e cintigrama são formas sincopadas de cintilografia e cintilograma (síncope é o nome que se dá em gramática à supressão de uma letra ou sílaba no meio da palavra).
Os léxicos mais modernos divergem quanto à preferência por uma ou outra forma. O Michaelis só registra cintigrafia;[6] Houaiss averba cintigrafia, com remissão para cintilografia.[7] Já o dicionário contemporâneo da Academia das Ciências de Lisboa procede de maneira inversa; averba cintilografia com remissão para cintigrafia.[8] O Aurélio século XXI e o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras aceitam as duas formas.[9][10] Os dicionários médicos de Paciornik e de Luis Rey só registram cintilografia.[11][12]
A BIREME, em seus descritores das ciências da saúde adota cintigrafia como qualificador em espanhol e cintilografia em português.[4] E com razão, porquanto em 57 artigos indexados com a palavra cintilografia no título, somente dois são redigidos em espanhol, ao passo que dentre 63 artigos com a palavra cintigrafia no título 41 estão redigidos em espanhol e 22 em português. Estes dados evidenciam uma opção quase absoluta por cintigrafia em espanhol e uma tendência de privilegiar cintilografia em potuguês.
Além das formas citadas há ainda a considerar outras denominações menos usadas. Sendo a radiação emitida pelos isótopos radioativos constituída de raios gama, foram propostos os termos gamagrafia e gamagrama. A propriedade da radiação de impressionar um filme radiográfico deu azo, por sua vez, ao surgimento de outra denominação para o método: autorradiografia.
Em língua inglesa são também usados os termos scintiscan e scintiscanner, que se abreviam em scan e scanner, para designar, respectivamente, cintigrama e gama-câmara. Embora sejam termos próprios da língua inglesa, têm sido frequentemente usados em outros idiomas, com tendência a se tornarem de uso universal.
Mesmo sem adaptar scan e scanner ao português, a Academia Brasileira de Letras já sacramentou o verbo escanear em seu Vocabulário Ortográfico.[10]
A lei do menor esforço e a influência da literatura médica norte-americana na nomenclatura biomédica poderiam favorecer a sobrevivência das formas contratas cintigrafia e cintigrama, porém já se delineia entre os médicos brasileiros nítida preferência pela forma cintilografia.
As denominações
gamagrafia,
gamagrama
e autorradiografia devem ser descartadas. O correspondente
vernáculo de scan e scanner,
vem a ser cintilograma
(ou cintigrama) e câmara de cintilação
ou gama-câmara.
Referências bibliográficas
1. ROBERT, P. - Dictionnaire alphabétique et analogique
de la langue française. Paris, Dictionnaires Le Robert, 1987
2. GARNIER, M., DELAMARE, V. - Dizionario dei termini
tecnici di medicina, 4.ed. (trad.). Roma, Marrapese, 1979.
3. BRAIER, L. - Diccionario enciclopédico de medicina,
4.ed. Barcelona, Editorial JIMS, 1980.
4. BIREME. Internet: disponível em http://www.bireme.br/.
Acesso em 05/01/2003.
5. DORLAND'S ILLUSTRATED MEDICAL DICTIONARY, 28. ed.
Philadelphia, W.B. Saunders Co., 1994.
6. MICHAELIS - Moderno dicionário da língua
portuguesa. São Paulo, Cia. Melhoramentos, 1998.
7. HOUAISS, A., VILLAR, M.S. – Dicionário
Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001.
8. ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA - Dicionário
da língua portuguesa contemporânea. Lisboa, Ed. Verbo, 2001.
9. FERREIRA, A.B.H. - Novo dicionário da língua
portuguesa, 3.ed. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1999.
10. ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS - Vocabulário
ortográfico da língua portuguesa, 3a. ed. Rio
de Janeiro, Imprensa Nacional, 1999.
11. PACIORNIK, R. - Dicionário médico,
2.ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1975.
12. REY, L. - Dicionário de termos técnicos
de medicina e saúde. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan S.A., 1999.
Publicado no livro Linguagem Médica, 4a. ed., Goiânia, Ed. Kelps, 2011.
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br