LINGUAGEM MÉDICA

CLIPAGEM


        Os léxicos da língua portuguesa, inclusive o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras não registram a palavra clipagem, derivada de clipe, forma vernácula de clip, palavra inglesa genuína, que se trasladou para outros idiomas.
        Em português passou pela pia batismal da Academia Brasileira de Letras e se encontra arrolada no vocabulário oficial, juntamente com o verbo clipar.
Napoleão Mendes de Almeida, em seu Dicionário de Questões Vernáculas, manda usar grampo em lugar de clip.  Grampo origina-se do alemão krampe, gancho, presilha.
        Pergunto: haveria vantagem em substituir uma palavra de procedência inglesa por outra de procedência alemã?
        Os franceses consideram clip sinônimo de agrafe. Seria a mesma coisa? Conheci agrafe desde o tempo de estudante do curso médico e me parece bem diferente dos clipes cirúrgicos atuais, inclusive no seu emprego.
        Mais do que a etimologia, importa a semântica. As palavras, em sua trajetória pelo tempo, vão adquirindo, independentemente de sua origem, um conteúdo semântico próprio, que se reveste de atributos específicos.
        Os nossos dicionários, para só citar os mais consultados (Aurélio e Houaiss) averbam clipe com apenas duas acepções: como prendedor de papéis e como fecho de segurança em jóias. Não fazem referência a clipe como termo do vocabulário médico. A deficiência é deles, que não acompanharam a evolução semântica da palavra.
        Na base de dados LILACS da BIREME foram indexados até 31/07/2011, 46 artigos em que se usou o termo clipagem e 42 o termo grampeamento. Se clipe e   clipar já fazem parte do acervo lexical oficial, por que não admitir clipagem? O sufixo –agem, oriundo do latim –aticum, é dos mais usados na construção de palavras que indicam ação ou resultado da ação. Clipagem indica com precisão o que pretendemos expressar: a colocação de um clipe em um vaso sanguíneo, ocluindo a sua luz. Não soa melhor que grampeamento?
        Deixemos os grampos para as mulheres prenderem os cabelos.
 
 

Referências



1. ALMEIDA, Napoleão Mendes de - Dicionário de questões vernáculas. São Paulo, Ed. "Caminho Suave" Ltda., 1981.
2. BIREME, Basse de dados LILACS. Disponível em  http://decs.bvs.br/ Acessado em 31/07/2011
 

Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
Da Sociedade Brasileira de História da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br

28/11/2011