CRASE
Na redação
de textos médicos são comuns as dúvidas quanto
ao emprego da crase. Antes de particularizarmos devemos recordar algumas
noções básicas e principais normas que regem o uso
da crase.
A palavra crase origina-se
do grego krasis, através do latim crasis,
com o sentido de mistura. [1] Consiste a crase na fusão
de duas vogais idênticas. No caso da fusão da preposição
a
com
o artigo definido a(s) ou com o pronome demonstrativo
a(s)
a
crase é indicada por um acento grave (à). Emprega-se
igualmente o acento grave quando o pronome demonstrativo a(s)
pode
ser substituído por aquela.
Para decidir se há
ou não crase em determinadas locuções devemos ter
em mente, em primeiro lugar, as duas seguintes regras fundamentais:
1. A crase da preposição
a
com
o artigo definido a(s) só ocorre diante de palavras femininas,
visto que o artigo definido das palavras masculinas é
o(s)
e
não a(s).
Constitui erro primário,
portanto, usar acento grave na preposição a de locuções
como a contento, a gosto, a esmo, a exemplo, a fogo, a frio, a fundo,
a juízo de, a lápis, a modo de, a pé, a prazo.
A única exceção
consiste nas locuções em que está implícita
e oculta uma palavra feminina, como moda, maneira. Ex.: gastrectomia
à Billroth I.
2. Sempre que houver dúvida devemos mentalmente substituir a palavra feminina por outra masculina; se a partícula a se alterar em ao, usa-se o acento grave indicativo de crase; se não se alterar, trata-se da preposição a, que deve permanecer sem acento; se for substituída por o(s) trata-se de artigo definido, que também não comporta acento.
Outras normas que poderão nos orientar e que devemos observar: [2]
3. Há palavras que não admitem a anteposição do artigo, tais como verbo, advérbio, artigo indefinido (um, uma), pronome pessoal (ela, nós, vós), pronome demonstrativo (esta, essa), pronome relativo (quem, cuja), pronome indefinido (cada, alguma, alguém, toda, qualquer, ambas). Nestes casos, é óbvio que não há crase.
4. Diante de possessivos femininos usados em função adjetiva (minha, tua, sua, nossa vossa), o acento é facultativo.
5. Em locuções prepositivas (à custa de, à espera de,) e locuções conjuntivas (à proporção que, à medida que) precedendo nomes femininos, usa-se o acento.
6. Em locuções adverbiais diante de nomes femininos (à vontade, às vezes, à vista) usa-se igualmente o acento.
7. Usa-se acento diante de palavras femininas após os verbos regidos pela preposição a (assistir a, responder a)
8. No caso do pronome relativo qual, usa-se o acento sempre que o antecedente for do gênero feminino. Quando o pronome é interrogativo, no entanto, não há crase.
9. Usa-se acento antes de adjuntos adverbiais de tempo e diante da palavra horas (à tarde, à noite, às 10 horas).
10. Constitui erro a indicação de crase com o artigo no singular diante de um nome no plural.
Há outras particularidades
de menor interesse para a linguagem médica que se encontram nas
gramáticas e publicações especializadas.
Vistas estas noções
básicas, podemos listar algumas das locuções mais
utilizadas e que, por vezes, geram dúvidas: [3]
A. Com acento indicativo de crase.
Exemplos:
B. Sem crase
Nos seguintes exemplos não há crase e usa-se apenas a preposição a.
a bem
de
a
instância
a curta
distância
a
jusante
a pouca
distância
a
montante
a meia
distância
de
ponta
a
ponta
a grande
distância
de
segunda
a
sexta
a duas
mãos
folha
a
folha
a duras
penas
frente
a
C. Crase facultativa
Em muitas locuções a crase é facultativa, podendo-se usar apenas a preposição. Exemplos:
Referências bibliográficas
1. CUNHA, A. G. – Dicionário etimológico
Nova Fronteira da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira
S.A., 1986.
2. ANDRADE, A.L. – A crase. Rio de Janeiro, Organização
Simões Ed., 1958.
3. LUFT, C.P. – Novo manual de português. São
Paulo, Ed. Globo, 1995.