DESNERVAÇÃO, DENERVAÇÃO
Há divergência
entre os linguistas quanto à origem do prefixo latino des-.
Segundo Coutinho, o prefixo des- originou-se da junção
de de + ex.[1]
Para Said Ali o prefixo
des-
nada mais é que a romanização do prefixo latino dis-,
"forma esta que se manteve inalterada em certo número de vocábulos
recebidos da língua-mãe, mas cuja faculdade de criar novos
termos dentro do domínio da língua portuguesa se transferiu
para a forma des-."[2]
Nunes admite as duas possibilidades
e ensina que o prefixo des- tanto pode resultar de dis-,
como da junção das preposições
de e
ex.[3]
O prefixo
des- entra
na formação de numerosos substantivos, adjetivos e verbos,
para expressar a idéia contrária a do termo primitivo, ao
qual se antepõe.
No caso dos substantivos
tem valor semântico de:
a) coisa oposta ou falta
daquilo que é denotado pelo termo primitivo
(ex.: desordem, desconforto, desatenção);
b) cessação
de um estado anterior
(ex.: desengano, desilusão, desuso);
c) coisa mal feita.
(ex.: desgoverno, desserviço).
Nos adjetivos, o prefixo
des-
nega a qualidade primitiva
(ex.: desumano, desconexo, desigual).
Em relação
aos verbos, denota:
a) ato contrário
ao expresso pelo verbo primitivo
(ex.: desfazer, desembrulhar);
b) cessação
de uma situação anterior
(ex.: desmamar, desempatar);
c) tirar ou separar alguma
coisa de outra.
(ex.: descascar, desfolhar);
d) mudança de aspecto
(ex.: desfigurar).
Pode ainda o prefixo des-
ter função meramente expletiva
(ex.: descair, desgastar, desinquieto).
O prefixo latino
de-,
que não deve ser confundido com o anterior, e entra na formação
de muitas palavras, exprime a idéia de:
a) origem (ex.: decorrer,
deduzir);
b) direção
para baixo (ex.: dejeção, defluxo);
c) afastamento (ex.: deportar);
d) separação
(ex.: decapitar, depenar);
e) sentido contrário
(ex.: decrescer);
f) privação
(ex.: demente).
Referências bibliográficas
1. COUTINHO, I.L. - Pontos de gramática histórica,
5.ed. Rio de Janeiro, Liv. Acadêmica, 1962, p. 208.
2. SAID ALI, M. - Gramática histórica de
língua portuguesa, 3.ed. São Paulo, Melhoramentos, 1964,
p. 250.
3. NUNES, J.J. - Compêndio de gramática
histórica. Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1975, p. 394.
Publicado no livro Linguagem Médica, 3a. ed., Goiânia, AB Editora
e Distribuidora de Livros Ltda, 2004.
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História
da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br
10/9/2004.