EMBOLIA, EMBOLISMO. TROMBOEMBOLIA, TROMBOEMBOLISMO
Êmbolo origina-se diretamente
do grego. Embole, em grego, expressa a "ação de lançar,
de arremessar em", e êmbolo
tem
o sentido de cunha, tampão [1-3].
O termo embolia
foi
introduzido no vocabulário médico por Virchow, em seus trabalhos
publicados entre 1846 a 1853 para caracterizar a oclusão de uma
artéria por um coágulo que se desprende do seu local de origem
e é lançado na circulação sanguínea.
Os trabalhos de Virchow sobre o assunto foram reunidos em seu livro Thrombose
und Embolie, editado em 1856. [4]
Como a embolia pode ser
causada por outro material que se introduz na corrente sanguínea,
criou-se o termo tromboembolia para especificar que se trata de
um coágulo sanguíneo. Trombo é a forma vernácula
da palavra grega thrómbos,
que significa coágulo.[1]
Os termos
embolismo
e
tromboembolismo
são
variantes de embolia e tromboembolia.
Surge, então, a pergunta:
quando se deve empregar o sufixo -ia ou -ismo na formação
de termos médicos?
Não há nenhuma
regra sobre isso e a palavra, uma vez formada e posta em circulação,
é legitimada pelo uso. Ambos os sufixos são usados em nomes
de doenças, sintomas e condições patológicas
diversas.
Exemplos:
Com o sufixo -ia:
alergia,
anorexia, apraxia, blenorragia, difteria, dispepsia, esquizofrenia, hemicrania,
histeria, leucemia, miopia, tetania.
Com o sufixo -ismo:
albinismo,
estrabismo, impaludismo, meningismo, nanismo, ofidismo, parasitismo, priapismo,
ptialismo, reumatismo.
Em poucos casos coexistem
as duas formas para o mesmo termo e não raro uma delas adquire um
significado peculiar, como, por exemplo, no caso de histerismo,
definido
como uma forma frusta de histeria.[5]
Em relação
aos termos embolia e embolismo os dicionários, de
maneira geral, os consideram como sinônimos, o mesmo ocorrendo com
tromboembolia
e
tromboembolismo.
Marcovecchio é um
dos poucos autores que estabelece distinção semântica
entre embolia e embolismo. Segundo ele, o termo embolia
designa "o fenômeno da passagem de um êmbolo na corrente sangüínea",
indo ocluir a luz de um vaso, enquanto embolismo, sensu strictu,
seria
"o estado oclusivo consequente à embolia."[6]
Em inglês praticamente
só se usa embolism e thromboembolism, enquanto em
francês, com raríssimas exceções, só
se usa embolie e thromboembolie.
Em alemão predomina
Embolie
e
Thromboembolie
sobre
Embolism
e
Thromboembolism.
Em italiano a preferência
é igualmente para embolia e tromboembolia.
Em espanhol e português
dá-se um fato curioso. Conforme se pode verificar nos trabalhos
veiculados pela Internet, a ocorrência de embolia
supera a
de embolismo na proporção de 2:1 em espanhol e 16:1
em português. Quando se trata, entretanto, de tromboembolia
e
tromboembolismo,
a situação se inverte e passa a ser de 1:11 em espanhol e
1:5 em português.
Muito embora sejam
considerados sinônimos, tromboembolia parece mais apropriado,
pelo menos na língua portuguesa, para descrever um evento singular.
Exemplo: "O paciente apresentou tromboembolia pulmonar no pós-operatório".
Já
tromboembolismo
tem um sentido mais geral, amplo, adequado a uma descrição
nosológica, ou como indicativo da ocorrência frequente
de tromboembolias. Exemplos: 1. "As principais causas do tromboembolismo
são..." 2. "O tromboembolismo é frequente na cardiopatia
chagásica crônica", o que equivale a dizer que as tromboembolias
são
frequentes na cardiopatia chagásica crônica.
Contudo, não se pode
condenar o uso de um ou de outro termo em qualquer eventualidade, já
que são considerados sinônimos pelos léxicos da língua
portuguesa.
Referências bibliográficas
1. BAILLY, A. - Dictionnaire grec-français, 16.
ed. Paris, Lib. Hachette, 1950.
2. HAUBRICH, W. S. - Medical meanings. A glossary of
word origins. Philadelphia, Am. College of Physicians, 1997.
3. SKINNER, H. A. - The origin of medical terms, 2.ed.
Baltimore, Williams & Wilkins, 1961.
4. VIRCHOW, R.L.K. - Thrombose und Embolia. Frankfurt,
Meidinger, Sohn u. Co., 1856, p.219-786. Apud MORTON, L.T.
- A medical bibliography (Garrison and Morton), 4.ed., London, Gower,1983,
p.401.
5. FERREIRA, A.B.H. - Novo dicionário da língua
portuguesa, 3.ed., Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999.
6. MARCOVECCHIO, Enrico: Dizionario etimologico storico
dei termini medici. Firenze, Ed. Festina Lente, 1993.
Publicado no livro Linguagem Médica, 3a. ed., Goiânia, AB Editora
e Distribuidora de Livros Ltda, 2004..
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História
da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br
10/9/2004.