EXAME. MÉTODO. TÉCNICA. PROCEDIMENTO. PROVA. TESTE.
REAÇÃO
Na investigação
científica e na linguagem médica comum, os termos acima estão
estreitamente relacionados e são comumente empregados sem uma compreensão
exata da sua diferenciação semântica.
Na evolução
das línguas as palavras sofrem alterações no seu significado,
que diferem de um idioma para outro, o que dificulta o entendimento. Contribui,
ainda, para a imprecisão da linguagem, a metonímia, que nos
leva a empregar uma palavra por outra.
Seria desejável que
as publicações técnico-científicas, especialmente
da área biomédica, adotassem uma definição
consensual para os referidos termos, buscando maior precisão da
linguagem.
As considerações
que se seguem têm por objetivo oferecer subsídios nesse sentido.
Exame - Termo de sentido
amplo, definido como "investigação, pesquisa, observação,
análise de alguma coisa"[1] Sendo um termo de sentido abrangente
pode ser usado nas mais diversas situações.
O exame pressupõe
um método, que exige uma técnica, da qual poderá
ou não fazer parte uma prova ou teste, que poderá
ou não ser uma reação.
O exame médico,
para exemplificar, segue um método, que inclui a anamnese,
o exame físico do paciente pela inspeção, palpação,
percussão e ausculta, e exames complementares, de natureza
vária, como exame radiológico, ultrassonográfico,
endoscópico, de laboratório, etc. Cada um dos exames
citados tem a sua própria técnica.
Um exame de laboratório,
como o hemograma, por exemplo, implica na utilização de um
método,
que se inicia com a colheita de sangue e termina com a contagem das células
sanguíneas, segundo uma técnica
padronizada.
Outro exemplo: um exame
para o diagnóstico da sífilis, além do método
e
da técnica para obtenção do sangue e separação
do soro, exige uma prova ou teste, com o qual se obtém
uma reação em presença do anticorpo específico.
Método - O
termo já existia em grego clássico (méthodos),
tendo sido usado por Platão e Aristóteles no sentido de "estudo
ordenado de uma questão filosófica ou científica".[2]
A palavra pode ser decomposta no prefixo metá + hodós,
que quer dizer caminho, via, rota. Em sentido genérico é,
portanto, o "caminho pelo qual se chega a um determinado resultado".[1]
Na terminologia científica,
método
pode ser definido como "um conjunto de dados e regras de proceder, permitindo
atingir um fim previamente determinado. Ex.: pesquisa experimental, diagnóstico,
operação, tratamento, reação físico-química
ou biológica, prova clínica ou teste de laboratório".[3]
Ramiz Galvão define método
como "um conjunto de meios
dispostos convenientemente para se chegar a um fim".[4]
Técnica - Do
grego tékhne, arte. Se o método é o
caminho, a técnica é o modo de caminhar. Técnica
subentende
o modo de proceder em seus menores detalhes, a operacionalização
do método
segundo normas padronizadas. É resultado
da experiência e exige habilidade em sua execução.
Um mesmo método
pode comportar mais de uma técnica.
A diferença semântica entre
método e técnica
pode
ser comparada à existente entre gênero e espécie.[5]
Por vezes é difícil
separar método de técnica, sobretudo no caso
de epônimos.
Procedimento - É um termo genérico que envolve tanto o método como a técnica, expressando a série de etapas que devem ser percorridas para se alcançar determinado resultado. É mais usado na língua inglesa, na expressão surgical procedure, como sinônimo de operação.[6]
Prova - É a
tradução vernácula do francês "épreuve",
termo usado em medicina naquele idioma para "todo meio (processo, manipulação,
manobra, reação, etc.) utilizado com o objetivo de por em
evidência ou avaliar uma propriedade, uma característica ou
uma função de um organismo vivo ou de uma de suas partes,
tomando por comparação uma norma pré-estabelecida".[3]
Dada a influência
da medicina francesa, a denominação de prova foi largamente
utilizada no passado na terminologia médica da língua portuguesa.
Com a hegemonia da medicina norte-americana, a denominação
clássica de prova vem sendo aos poucos substituída
pelo termo equivalente inglês: test.
O empréstimo lexical
derivado do intercâmbio científico é um fenômeno
universal e a substituição de prova (épreuve)
por test está ocorrendo também na medicina francesa.
A palavra test era desconhecida dos médicos franceses do
século XIX na acepção atual. "O termo foi primeiramente
utilizado em francês por Binet, em 1895, e admitido para designar
testes
psicológicos e, mais recentemente, testes estatísticos
e, por extensão, um grande número de provas biológicas
e químicas. Esta extensão é deplorada pelos
puristas, mas não cessa de crescer sob a influência da literatura
técnica anglo-saxônica, de sorte que test e prova
são
praticamente sinônimos".[3]
O "Dictionnaire de Médecine
et de Biologie", de Manuila e col., registra 349 entradas com o verbete
prova
e
262 com o verbete test.[3]
Teste - É a
forma aportuguesada da palavra test em inglês. A palavra test
tem uma história bastante curiosa. Era antes uma palavra francesa,
derivada do latim testa, que designava toda espécie
de vaso de argila ou barro de cerâmica.[7] "Na Idade Média
test,
em francês, passou a ser usado para um determinado tipo específico
de vaso, utilizado para aquecer um mineral e dele separar metais preciosos
como o ouro e a prata, ou seja um tipo especial de cadinho ou copela.
O test ou copela é um vaso poroso e pouco profundo.
Quando a prata ou o ouro impuros são aquecidos no seu interior,
as impurezas são absorvidas no material poroso, deixando no fundo
a prata ou o ouro relativamente puros".[8]
A partir do século
XVI o termo test passou a ser usado em sentido figurado, significando
averiguação de qualidade e autenticidade. O sentido figurado
prevaleceu sobre o primitivo e, nesta acepção, passou para
a língua inglesa. Em inglês foi incorporado à terminologia
científica, ocupando o lugar do francês épreuve.
Na 28.ed. do "Dorland’s Medical Dictionary" estão catalogados 910
verbetes sob a rubrica geral de test![6] É hoje um
termo largamente utilizado, com tendência a universalizar-se.
Reação
-
A polissemia da palavra reação implica em uma definição
específica para cada área de interesse. Etimologicamente,
em sentido geral, reação "é a resposta a uma
ação de sentido contrário".[1]
Em medicina traduz a resposta
do organismo a uma causa morbígena, um medicamento ou uma alteração
do meio interno ou externo, que tende a contrabalançar os seus efeitos.
Em fisiologia e patologia
expressa toda resposta a um estímulo.
Em química define
a interação de duas substâncias provocando a sua própria
transformação.
Em exames de laboratório
o termo reação deve ser reservado aos testes diagnósticos
em que se utilizam reagentes capazes de interagir com o componente orgânico
que está sendo examinado, produzindo alteração detectável
e significativa.
Vemos, assim, que há
uma certa hierarquia entre os termos analisados e que cada um deles tem
seu significado próprio.
Exame é a
palavra-tronco, da qual partem todas as demais. Seguem-se o método
e
a técnica, que fazem parte de qualquer exame e se referem
à maneira de realizar determinado exame. Procedimento
é
um termo genérico e descritivo, pouco apropriado como termo técnico.
Prova
e
teste
podem
ser considerados sinônimos e indicam uma modalidade de exame que
vai além da simples observação.
Reação
caracteriza
um tipo especial de teste.
Referências bibliográficas
1. FERREIRA, A.B.H.- Novo dicionário da língua
portuguesa. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1975.
2. BAILLY, A. - Dictionnaire grec-français, 16.
ed. Paris, Lib. Hachette, 1950.
3. MANUILA, A., MANUILA, L., NICOLE, M., LAMBERT, H.-
Dictionnaire français de médecine et de biologie. Paris,
Masson & Cie., 1970.
4. GALVÃO, B.F.R. - Vocabulário etymologico,
ortographico e prosodico das palavras portuguesas derivadas da língua
grega. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1909.
5. KOTAIT, I. - Editoração Científica.São
Paulo, Ed. Ática, 1981.
6. DORLAND'S ILLUSTRATED MEDICAL DICTIONARY, 28.ed. -
Philadelphia, W. B. Saunders Co., 1994.
7. ERNOUT, A., MEILLET, A. - Dictionnaire étymologique
de la langue latine. Histoire des mots, 4.ed. Paris, Ed. Klincksieck, 1979.
8. WEBSTER’S WORD HISTORY. - Springfield, Merriam-Webster’s
Inc. Publ., 1989, p.461