LINGUAGEM MÉDICA
EXSANGUINOTRANSFUSÃO
Este é um termo de
introdução recente em linguagem médica, não
somente na língua portuguesa com em outros idiomas.
O método da exsanguinotransfusão
foi idealizado por Hart, em 1925, para o tratamento da icterícia
grave do recém-nascido, recebendo em inglês a denominação
de exchange transfusion.[1] Diamond, em 1948, desenvolveu a técnica
de exsanguinotransfusão, preconizado-a como tratamento da eritroblastose
fetal. Em seu trabalho referiu-se a replacement transfusion.[2]
O método consiste
na substituição de quase todo o sangue do paciente pelo sangue
de um doador, o que se consegue pela retirada e transfusão de sangue,
realizadas simultaneamente. Por esta razão, foi também chamado
de substitution tansfusion, em inglês,[3] e de Austauschtransfusion,
em alemão.[4]
Há em latim o verbo
sanguino,
are,
que se traduz em português por sangrar, perder sangue.
Exsanguis,
e, em latim, que também se escreve exanguis,
e,
quer dizer anêmico, no sentido etimológico do termo, privado
de sangue, e corresponde a exangue em português. O prefixo
ex-,
primitivamente grego e posteriormente assimilado pelo latim, significa
para
fora.
Para melhor expressar a
idéia da retirada total ou quase total do sangue usam-se os termos
exsanguinar
e
exsanguinação
(em
inglês:
exsanguinate, exsanguination).
A realização
simultânea da exsanguinação e da transfusão,
ou seja a substituição do sangue, resulta na formação
da palavra composta exsanguinotransfusão (em inglês:
exsanguinotransfusion).
Não se pode tachar
de incorreta a forma exanguinotransfusão, também usada
em espanhol - exanguinotransfusion. [5] Contudo, tratando-se de
termo de formação erudita é conveniente a manutenção
da letra s - exsanguinotransfusão.
O termo é hoje universalmente
aceito, com as adaptações mórficas adequadas a cada
idioma, sendo que o s foi mantido em italiano, francês, inglês
e alemão.
O Vocabulário Ortográfico
da Academia Brasileira de Letras averba exsanguinitransfusão.
[6] Houaiss deriva a palavra do latim ex + sanguis,
inis + transfusão e registra exsanguinotransfusão
com
remissão para exanguinitransfusão, o que pressupõe
preferência para esta última forma. [7] Julgo preferível,
no entanto, a forma exsanguinotransfusão, já consagrada
em terminologia médica.
Referências bibliográficas
1. MORTON, L.T. - A medical bibliography (Garrison and
Morton), 4.ed. London, Gower, 1983, p. 414.
2 DIAMOND, L. K. - Replacement transfusion as a
treatment for erythroblastosis fetalis. Pediatrics 2: 520-524, 1948 .
3. CHURCHILL'S MEDICAL DICTIONARY. New York, Churchill
Livingstone, 1989.
4. PSCHYREMBEL, W. - Klinisches Wörterbuch. Berlim,
Walter de Gruyter, 1977.
5. BRAIER, L. - Diccionario enciclopédico de medicina,
4.ed. Barcelona, Editorial JIMS, 1980.
6. ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS - Vocabulário
ortográfico da língua portuguesa, 3. ed. Rio de Janeiro,
Imprensa Nacional, 1999.
7. HOUAISS, A., VILLAR, M.S. – Dicionário Houaiss
da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
Publicado no livro Linguagem Médica, 3a. ed., Goiânia, AB Editora
e Distribuidora de Livros Ltda, 2004..
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História
da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br
10/9/2004.