FACIES
Vemos com frequência
em textos médicos o emprego de facies no gênero
masculino. "O paciente tem um facies característico...".
Facies é
palavra latina do gênero feminino, com o mesmo sentido de face
em
português. Foi incorporada ao vocabulário médico com
um duplo significado.
Na Terminologia Anatomica,
redigida em latim, tanto designa a face em sua estrutura anatômica,
como indica a superfície de determinadas partes do corpo, como ossos
e vísceras: facies anterior, facies posterior, facies
medialis, facies lateralis, facies parietalis,
facies visceralis.[1] Nesta acepção deve traduzir-se
por face anterior, face posterior, face medial, face lateral,
face parietal, face visceral.
Em Semiologia, a palavra
facies
adquiriu outro significado, expressando o aspecto geral do rosto do paciente,
onde se espelham sinais sugestivos de determinadas doenças ou situações
clínicas.
Na medicina clínica
do passado foram descritas dezenas de facies; algumas típicas,
como fácies hipocrática, fácies renal, fácies
basedowiana, e outras menos características, que têm,
atualmente, apenas interesse histórico. Nesta acepção
a palavra facies é intraduzível e se mantém
como latinismo em todas as línguas de cultura.
Sendo feminina em latim,
deve preservar o mesmo gênero em todas as línguas neolatinas.
Em espanhol e italiano manteve-se o gênero feminino. Em francês,
no entanto, adotou-se o gênero masculino, o que influenciou os autores
médicos de língua portuguesa.[2][3] No dizer de Silveira
Bueno "deve ser combatido o erro dos médicos que dão a esta
palavra o gênero masculino. É feminino".[4]
Muito embora o Vocabulário
Ortográfico da Academia Brasileira de Letras aceite os dois gêneros,
é recomendável a manutenção do gênero
feminino original do latim.
A incorporação
da palavra facies ao vernáculo justifica o acento
tônico na primeira sílaba adotada no citado Vocabulário
e em alguns outros léxicos.
Referências bibliográficas
1. FEDERATIVE COMMITTEE ON ANATOMICAL TERMINOLOGY. - Terminologia
anatomica. Stuttgart, Georg Thieme Verlag, 1998.
2. BARBOSA, P. - Dicionário de terminologia médica
portuguesa. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1917.
3. PINTO, P. A. - Dicionário de termos médicos,
8. ed. Rio de Janeiro, Ed. Científica, 1962.
4. BUENO, F. S. - Grande dicionário etimológico-prosódico
da língua portuguesa. São Paulo, Ed. Saraiva, 1963.
5. ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS - Vocabulário
ortográfico da língua portuguesa, 3. ed. Rio de Janeiro,
Imprensa Nacional, 1999.
Publicado no livro Linguagem Médica, 3a. ed., Goiânia, AB Editora
e Distribuidora de Livros Ltda, 2004..
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História
da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br