INGESTA, EXCRETA
São ambas palavras
latinas, introduzidas na linguagem médica para expressar, respectivamente,
o conjunto de substâncias ingeridas e o conjunto de substâncias
excretadas.
Ingesta, em
latim, é plural de ingestum, particípio passado
neutro do verbo ingerere. Excreta é
plural de excretum, particípio passado neutro do verbo
excernere.Como
formas nominais dos verbos, os particípios podem ser usados como
adjetivos ou substantivos [1].
Os plurais neutros latinos,
quando empregados em português, ora são utilizados como verdadeiros
latinismos, ora são incorporados ao léxico como palavras
aportuguesadas e, portanto, sujeitas às flexões do nosso
idioma. Podemos citar como exemplos:
memorandum, memoranda–
memorando,
memorandos
ultimatum, ultimata–
ultimato,
ultimatos
dejectum, dejecta–
dejeto,
dejetos
Há casos em que o
plural neutro latino passa para o singular em português, como em
agenda
e
errata.
Nestes casos, forma-se o plural pelo acréscimo da letra s:
agendas e erratas [2].
Teoricamente, temos as seguintes
possibilidades para o uso de ingesta e excreta
como termos médicos:
l. Manutenção
da palavra como latinismo: ingesta e excreta. Como não
há gênero neutro em português, devemos atribuir um gênero
gramatical às palavras ingesta e excreta. Neste
caso, há flexão somente do artigo: os ingesta,
os
excreta; ou as ingesta, as excreta.
2. Aportuguesamento no gênero
masculino: os ingestas, os excretas.
ou os ingestos, os excretos.
3. Aportuguesamento no gênero
feminino. Diríamos: as ingestas, as excretas.
Excreto, no singular,
encontra-se averbado como adjetivo em vários léxicos do século
passado.
Excretos, como substantivo
masculino plural, aparece nos dicionários de Vieira [3] Lacerda
[4] Aulete [5] e em quase todos os dicionários atuais.
Ingesto é
forma inusitada em português, ausente na maioria dos léxicos,
porém averbada como adjeetivo no Vocabulário da Academia
Brasileira de Letras.[6]
Na opinião de Plácido
Barbosa, ingestos, no plural, seria a forma mais apropriada de tradução
do latim ingesta.[2] Em seu lugar, encontra-se ingesta,
ora como latinismo, ora como palavra aportuguesada. O léxico mais
antigo que averba o termo ingesta é o de Vieira, com a seguinte
definição: "Nome dado a todas as substâncias a serem
introduzidas no corpo pelas vias digestivas: tais são os alimentos,
os condimentos e as bebidas". [3]
Ingesta encontra-se
em quase todos os dicionários modernos, sendo de estranhar a sua
ausência no Novo Dicionário da Língua Portuguesa,
de Aurélio Ferreira.[7]
A melhor opção,
a meu ver, seria o aportuguesamento, no singular, do plural latino, tal
como agenda e errata, formando-se o plural vernáculo
com o acréscimo da letra s. Quanto ao gênero, a maioria
dos lexicógrafos preferem o gênero feminino, tendo em conta
a terminação em a. Diríamos, portanto, as
ingestas e as excretas.
Referências bibliográficas
1. ALMEIDA, N.M. - Gramática metódica da
língua portuguesa, 37.ed., São Paulo, Ed. Saraiva, 1992,
p.554.
2. BARBOSA, P. - Dicionário de terminologia médica
portuguesa. Rio de Janeiro,Liv. Francisco Alves, 1917.
3. VIEIRA, D. - Grande dicionário português
ou Tesouro da língua portuguesa. Porto, Ernesto Chardron e Bartholomeu
H. de Moraes, 1871-1874.
4. LACERDA, J.M.A.A.C. - Dicionário enciclopédico
ou Novo dicionário da língua portuguesa. Lisboa, F. Arthur
da Silva, 1874.
5. AULETE, F.J.C. - Dicionário contemporâneo
da língua portuguesa. Lisboa, 1881.
6. ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS - Vocabulário
ortográfico da língua portuguesa, 3. ed. Rio de Janeiro,
Imprensa Nacional, 1999.
7. FERREIRA, A.B.H. - Novo dicionário da língua
portuguesa, 3.ed. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1999.
Publicado no livro Linguagem Médica, 3a. ed., Goiânia, AB Editora
e Distribuidora de Livros Ltda, 2004..
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História
da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br
Atualizado em 10/09/2004.