OBESO
A palavra obeso provém do latim obesus,
em que a vogal e tem som aberto (é). Questiona-se
qual deve ser a pronúncia em português: obeso (é)
ou obeso (ê)?
A maioria dos léxicos consigna o termo sem
menção à pronúncia, enquanto outros advertem
que a vogal e tem som aberto. Dentre estes podemos citar
o de Cândido Jucá (filho)[1] e o de Aurélio Ferreira,
em sua primeira edição [2].
Em algumas obras especializadas encontra-se igualmente
a informação de que se trata de e aberto. Assim,
Ernani Calbucci diz textualmente: "Obeso - Este vocábulo que significa
gordo, barrigudo, pronuncia-se com o e aberto: obéso. A grafia
é obeso".[3] Vittorio Bergo registra: "Obeso - gordo, barrigudo.
Tem o e aberto, rimando com rezo".[4] Autuori e Proença Gomes
dão como errônea a pronúncia com o e fechado
(obêso).[5]
Portanto, parece haver consenso
entre os linguistas quanto ao som aberto da segunda sílaba.
Como exceção, encontra-se no Dicionário de Rimas
de Visconde de Castelões, a palavra obeso rimando com aceso
e
surpreso.[6]
Em linguagem poética, entretanto, são permitidas tais liberdades
prosódicas, de que temos exemplo na maior obra poética da
língua portuguesa - Os Lusíadas. Na estrofe 120 do Canto
III, ao narrar o drama de Inês de Castro, Camões rima sossego
com
cego.[7]
"Estavas, linda Inês,
posta em sossego
De teus anos colhendo doce
fruito
Naquele engano da alma,
ledo e cego"
........................................................
Apesar de todas estas considerações,
cada vez mais se firma na linguagem médica a pronúncia de
obeso com e fechado (obêso). As mudanças fonéticas
e semânticas das palavras ocorrem naturalmente com o passar do tempo
e seguem o seu curso indiferentes às normas e regras da língua.
Acredito que estamos diante de um fato linguístico irreversível,
pois dificilmente os médicos deixarão de dizer obeso (ê).
Esta mudança, como tantas outras, veio para ficar.
Referências bibliográficas
1. JUCÁ (filho), C. - Dicionário escolar
das dificuldades da língua portuguesa. Rio de Janeiro, MEC, 1965.
2. FERREIRA, A.B.H. - Novo dicionário da língua
portuguesa. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1975.
3. CALBUCCI, E - Léxico de dúvidas de linguagem.
São Paulo, Revisora Gramatical, s/d.., p. 18.
4. BERGO, V. - Erros e dúvidas de linguagem, 6.ed.
Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1986., p. 267.
5. AUTUORI, L.G., GOMES. O.P. - Nos garimpos da linguagem,
3.ed. Rio de Janeiro, Liv. São José, 1956, p.43.
6. CASTELÕES, V. - Dicionário de rimas.
Porto, Ed. Domingos Barreira, s/d., p. 294
7. CAMÕES, L. - Obras completas. Porto, Lello
& Irmão, 1970, p.1.207.