LINGUAGEM MÉDICA
PERCENTAGEM, PORCENTAGEM
O termo percentagem, embora
de origem latina, é uma adaptação do vocábulo
inglês percentage, de per cent, derivado do latim per
centum.[1]
A palavra percentagem
em
português encontra-se averbada no dicionário de Domingos Vieira.[2]
Tanto este léxico, como outros do século passado, não
consignam a forma porcentagem, que teria surgido posteriormente.
Trata-se, portanto, de variantes da mesma palavra, sendo percentagem
a
mais antiga. Segundo Houaiss, a mesma teria entrado para a língua
portuguesa em 1858.[3]
A preposição
latina per, quando empregada isoladamente, foi substituída
em português pela preposição por e hoje sobrevive
apenas na locução de per si, e na aglutinação
com o primitivo artigo lo em pelo(s), pela(s).
Cândido de Figueiredo,
[4] bem como a Academia das Ciências de Lisboa [5] consideram porcentagem
brasileirismo;
contudo, esta forma é também usada em Portugal, talvez por
influência do francês pourcentage.[6]
Autores há que advogam
a forma primitiva percentagem, enquanto outros propugnam a variante
porcentagem,
em virtude da locução por cento, de uso corrente.
O fato de usarmos por
cento não nos obriga a optar pela variante porcentagem,
visto que a palavra não se formou em português e veio para
o nosso idioma já pré-formada, adaptada do inglês,
que, por sua vez, buscou no latim os elementos linguísticos
para a sua formação.
Dos léxicos mais
modernos, Michaelis registra porcentagem com remissão para
percentagem,
o que denota preferência por esta última forma.[7] Já
o dicionário Aurélio século XXI [8] e
o dicionário Houaiss [3] averbam ambas as formas como variantes
equivalentes da mesma palavra.
O Vocabulário
Ortográfico da Academia Brasileira de Letras registra igualmente
ambas as formas.[9]
A dificuldade surge quando
passamos aos cognatos: Percentual ou porcentual? Percentil
ou porcentil? Se é fácil mudar percentagem para porcentagem,
o mesmo já não ocorre com percentual e percentil,
este último termo consagrado em estatística.
Segundo Nascentes,[10] o
II Congresso Brasileiro de Matemática, realizado em Porto Alegre
em 1957, oficializou a forma porcentagem, mas não há
referência que tenha procedido da mesma maneira em relação
a percentual e percentil. Seria coerente optarmos pela forma
porcentagem,
conservando
ao mesmo tempo percentual e percentil?
Apesar do uso crescente
de porcentagem parece-nos preferível a forma percentagem,
por
ser a mais antiga na língua portuguesa e a que nos indica claramente
a sua origem latina, tal como nos veio através do inglês.
Referências bibliográficas
1. CUNHA, A.G. - Dicionário etimológico.
Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1982.
2. VIEIRA, D. - Grande dicionário português
ou Tesouro da língua portuguesa. Porto, Ernesto Chardron e Bartholomeu
H. de Moraes, 1871-1874.
3. HOUAISS, A., VILLAR, M.S. – Dicionário Houaiss
da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
4. CALBUCCI, E. - Questiúnculas de português.
São Paulo, Revisora Gramatical, 1953, p.197.
5. FIGUEIREDO, C. - Dicionário da língua
portuguesa, 13.ed. Lisboa, Liv. Bertrand, 1949.
6. ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA: Dicionário
da língua portuguesa contemporânea. Lisboa, Ed. Verbo, 2001.
7. MICHAELIS - Moderno dicionário da língua
portuguesa. São Paulo, Cia. Melhoramentos, 1998.
8. FERREIRA, A.B.H. - Novo dicionário da língua
portuguesa, 3.ed. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1999.
9. ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS - Vocabulário
ortográfico da língua portuguesa, 3. ed. Rio de Janeiro,
Imprensa Nacional, 1999.
10. NASCENTES, A. - Dicionario etimológico resumido.
Rio de Janeiro, INL, 1966.
Publicado no livro Linguagem Médica, 3a. ed., Goiânia, AB Editora
e Distribuidora de Livros Ltda, 2004..
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História
da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br
10/09/2004.