PERITÔNIO, PERITÔNEO, PERITONEU
PERITONIAL, PERITONEAL
A palavra peritônio
tem sido escrita tanto com a terminação em -io
(peritônio) como em -eo (peritôneo).
O termo provém do
grego peritónaion (de perí, em
volta + tónos, estendido). Foi empregado por Galeno
para designar a membrana serosa que reveste as vísceras abdominais.[1]
Do grego passou para o latim com forma dúplice: peritonaeum
e
peritoneum.[2]
Do latim derivam peritoine, em francês, e peritoneo
em espanhol e italiano. Em português coexistem as formas peritônio,
peritôneo e peritoneu, a última das quais usada
somente em Portugal.
O grande helenista e médico
Ramiz Galvão registra as formas peritônio e peritoneu,
ensinando que "a forma peritônio, usada no Brasil, tem sua
justificativa no próprio grego, que também admite peritónion".[3]
Plácido Barbosa grafa
peritôneo
e
diz que "a pronúncia peritôneo é perfeitamente defensável,
porque no grego já existiam os vocábulos
peritónion e
peritóneos,
nos
quais o acento é na terceira sílaba".[4] Esta mesma explicação
é encontrada em outros léxicos.
Dentre as divergências
lexicais existentes entre o português do Brasil e o de Portugal,
encontra-se a da palavra peritônio, que em Portugal se escreve
peritoneu
(com
acento na última sílaba), embora o dicionário da Academia
de Ciências de Lisboa já admita a forma alternativa
peritónio
(com acento aguda na terceira sílaba conforme a prosódia
portuguesa).[5]
A Terminologia Anatômica
reconhece
as formas peritônio, usada no Brasil, e peritoneu,
usada em Portugal.[6]
A forma peritôneo
(com
e)
parece ter sido a preferida anteriormente, visto ser a forma encontrada
em dicionários do século XIX [7][8][9].
Há atualmente preferência
pela forma peritônio (com i), a única
averbada nos melhores léxicos contemporâneos, à exceção
do de Silveira Bueno, que mantém a forma peritôneo [10]
e do Dicionário de Questões Vernáculas, de
Napoleão Mendes de Almeida, que aceita as duas formas.[11]
Nos textos médicos
atuais raramente se vê a forma peritôneo.
Embora haja concordância
entre os léxicos mais recentes quanto à forma peritônio,
o mesmo não se dá em relação ao adjetivo, que
tanto se se pode grafar peritoneal como peritonial,
sendo que a primeira forma é a mais empregada.
À exceção
da terceira edição do dicionário de Aurélio
Ferreira, conhecida como Aurélio século XXI [12] e o Vocabulário
Ortográfico da Academia Brasileira de Letras, [13] que registram
as duas formas, outros léxicos abonam unicamente a forma peritoneal.[14][15][16].
Parece-nos uma incongruência
optar-se por peritônio (com i) e peritoneal (com
e).
Houaiss considera periton(e)o elemento de composição
utilizado na formação de derivados de peritônio.[15]
Todavia, o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira
de Letras registra tais derivados, ora com e, como em peritonealgia,
peritoneorragia, peritoneovaginal, ora com i, como em peritoniocentese,
peritonioscopia, peritoniostomia.[12]
Na ausência de um
acordo entre Brasil e Portugal sobre a terminologia médica, devemos
continuar preferindo a forma peritônio e, por coerência,
deveríamos optar por peritonial. O adjetivo peritoneal, no
entanto, parece estar consolidado No banco de dados da BIREME, a
forma peritoneal aparece com uma frequência muito superior
a da forma peritonial.[17]
Referências bibliográficas
1. GALENO, C. - Oeuvres anatomiques, physiologiques et
médicales. Trad. Ch. Daremberg. Paris, Baillière, 1854, vol.1,
p. 298.
2. QUICHERAT, L., DAVELUY, A. - Dictionnaire latin-français.
Paris, Lib. Hachette, 1876.
3. GALVÃO, B.F.R. - Vocabulário etymologico,
ortographico e prosodico das palavras portuguesas derivadas da língua
grega. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1909.
4. BARBOSA, P. - Dicionário de terminologia médica
portugueza. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1917.
5. ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA - Dicionário
da língua portuguesa contemporânea. Lisboa, Ed. Verbo, 2001.
6. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA - Terminologia anatômica.
São Paulo, Ed. Manole Ltda., 2001, p. 50
7. FARIA, E. - Novo dicionário da língua
portuguesa, 2 ed. Lisboa, Typographia Lisbonense, 1856.
8. VIEIRA, D. - Grande dicionário português
ou Tesouro da língua portuguesa. Porto, Ernesto Chardron e Bartholomeu
H. de Moraes, 1871-1874.
9. LACERDA, J.A.A.C. - Dicionário enciclopédico
ou Novo dicionário da língua portuguesa. Lisboa, F. Arthur
da Silva, 1874.
10. BUENO, F.S. - Grande dicionário etimológico-prosódico
da língua portuguesa. São Paulo, Ed. Saraiva, 1963.
11. ALMEIDA, Napoleão Mendes de - Dicionário
de questões vernáculas. São Paulo, Ed. "Caminho Suave"
Ltda., 1981.
12. FERREIRA, A.B.H. - Novo dicionário da língua
portuguesa, 3.ed. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1999.
13. ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS - Vocabulário
ortográfico da língua portuguesa, 3. ed. Rio de Janeiro,
Imprensa Nacional, 1999.
14. AULETE, F.J.C., GARCIA, H. - Dicionário contemporâneo
da língua portuguesa, 3.ed. Rio de Janeiro, Ed. Delta, 1980.
15. MICHAELIS - Moderno dicionário da língua
portuguesa. São Paulo, Cia. Melhoramentos, 1998.
16. HOUAISS, A., VILLAR, M.S. - Dicionário Houaiss
da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
17. BIREME. Internet: http://bases.bireme.br/.
Acesso
em 15/11/2002.