VEIA PORTA
Há em grego duas palavras
que significam porta:
thyra e pýle. A primeira refere-se
à porta de uma habitação, de uma casa; a segunda designa
especificamente porta de cidade ou de uma fortaleza.[1] O nome de veia porta
deriva desta última e por isso dizemos pileflebite e não
tiroflebite,
quando nos referimos à inflamação da veia porta.
Até a Idade Média,
as cidades eram cercadas por muralhas que as protegiam dos invasores. Nessas
muralhas havia grandes portas, que podiam permanecer abertas ou fechadas,
conforme a ocasião, e por onde entravam e saiam as pessoas e as
mercadorias.
Galeno comparou a uma dessas
portas o local de entrada, no fígado, dos nutrientes conduzidos
pelas veias do sistema venoso esplâncnico.
No livro Epidemias II.4,
do Corpus Hippocraticum, encontra-se referência à veia
que transpõe as "portas do fígado".[3] Aristóteles,
na Historia animalium descreve o vaso sanguíneo que passa
através do fígado no local onde estão as chamadas
"portas do fígado" (pylai).[4] Também Platão
refere-se a portas do fígado na seguinte passagem do Timaeus:
O fígado "fechando e ocluindo vasos e portas causa dor e indisposição".[5]
Vemos, assim, que a ideia
de uma porta no fígado é das mais antigas em medicina.
A Nomina Anatomica (BNA,
1895) legitimou a denominação latina de vena portae,
cuja tradução correta é veia da porta e não
veia
porta. Nas últimas versões da Nomina Anatomica,
posteriores ao XI Congresso Internacional de Anatomistas, realizado em
1980 na cidade do México, a denominação recomendada
passou a ser vena portae hepatis, ou seja veia da porta do fígado.[6][7][8]
A tendência de simplificação
da linguagem, no entanto, fez prevalecer o nome de veia porta, adjetivando
o substantivo porta, denominação hoje consagrada não
apenas em português como em espanhol e francês.
Talvez por extensão
analógica, a hipertensão do sistema venoso portal, de modo
semelhante, tem sido chamada hipertensão porta. Pelo menos
neste caso seria aconselhável a adjetivação correta
- hipertensão portal, em conformidade com os Descritores
das Ciências da Saúde, da BIREME.[9]
Referências bibliográficas
1. LIDDELL, H.G., SCOTT, R. - A greek-english lexicon,
9.ed., Oxford, Claredon Press, 1983.
2. GALENO - Oeuvres anatomiques, physiologiques et médicales,
trad. Ch. Daremberg. Paris, Baillière, 1854, p. 280.
3. HIPPOCRATE - Oeuvres complétes, trad. Littré
(1861). Paris, Javal et Bourdeaux, 1932. t. 2, p. 21
4. ARISTÓTELES - Historia animalium, 1.17, 496b,
The Loeb Classical Library, 1979, vol. 1, p. 70
5. PLATÃO - Timaeus. Great books of the Western
World, vol 7, 1952, p. 467.
6. NOMINA ANATOMICA, 5th. ed., 1983, p. A60
7. NOMINA ANATOMICA, 6th. ed., 1989, p. A
64
8. FEDERATIVE COMMITTEE ON ANATOMICAL TERMINOLOGY. -
Terminologia anatomica. Stuttgart, Georg Thieme Verlag, 1998, p. 98
9. BIREME - http://www.bireme.br/decs/, abril de 2001.