RESSECÇÃO, RESSEÇÃO, RESSECAÇÃO
Ressecção,
resseção e ressecação são
variantes de uma mesma palavra existente em latim, resectio, resectionis,
formada, por sua vez, do prefixo re- + sectio,
sectionis.
Sectio, sectionis
fora
já empregado por Plinius no século I d.C. com o sentido de operação
cirúrgica, amputação.[1] O prefixo re-
exprime a idéia de repetição, reiteração.[2]
O sufixo –ção
em
português origina-se do acusativo latino –tione [3].
Em algumas palavras a letra c que antecede a este sufixo permaneceu
em português, como em ficção; em outras foi
suprimida, como em ação, e em outras sobreviveram as duas
formas como no caso de secção e seção,
dissecção e disseção, ressecção
e resseção.
As formas dissecação
e
ressecação,
por sua vez, foram introduzidas posteriormente como deverbais de dissecar
e
ressecar.
A grafia com a letra c
antes
do sufixo –ção ocorre mais vezes em palavras de formação
erudita, como ocorre com o verbo seccionar.[4]
O verbo secar, em
português, tem dupla origem. Na acepção de cortar,
dividir, provém do verbo latino seco, secare,
e na acepção de tornar seco, perder a umidade, origina-se
de outro verbo latino, sicco, siccare.[1] Trata-se,
portanto, de formas convergentes, ou seja, de palavras de étimos
distintos que convergem para uma forma única.
Ressecar e dessecar
formaram-se
pela anteposição, respectivamente, dos prefixos re- e
des-
ao
verbo secar. No primeiro caso o prefixo re- indica repetição
(como em cortar e recortar); no segundo caso, o prefixo des-
tem
a função de reforçar a idéia expressa pelo
vocábulo a que está ligado.[2]
Entende-se, assim, por que
o particípio ressecado tanto pode significar cortado
como seco. Nesta segunda acepção usa-se também
ressequido.
A opção entre
ressecção
e
resseção
varia
conforme o léxico consultado. O dicionário Aurélio
século XXI,[4] assim como o Houaiss [5] averbam ressecção
com
remissão para resseção. Inversamente, o Michaelis
registra
resseção
com
remissão para ressecção.[6]Nascentes averba
unicamente
ressecção.[7] Do mesmo modo procede Borba
em seu Dicionário de usos do português no Brasil.[8]
Dos dicionários médicos,
o de Pedro Pinto consigna apenas resseção,[9] enquanto
o de Paciornik e o de Rey somente ressecção.[10][11]
Ressecação
aparece
na maioria dos léxicos somente no sentido de "tornar seco"
Na linguagem médica
usa-se de preferência ressecção, que corresponde
a resection, em inglês; résection, em francês,
e resección, em espanhol.
No banco de dados da BIREME,
correspondente aos últimos 22 anos, a forma ressecção
aparece
1.214 vezes; resseção, 43 vezes, e ressecação,
sete
vezes. Figurando no título dos artigos indexados, o termo
ressecção
foi
usado 183 vezes, resseção
quatro vezes, e
ressecação,
duas vezes, sendo que em uma delas o termo foi empregado no sentido de ressecar,
tornar
seco.[12]
Em face destes dados, verifica-se
que a forma ressecção acha-se consagrada na terminologia
médica e deve prevalecer.
Referências bibliográficas
1. SARAIVA, F.R. dos Santos - Dicionario latino-português,
10.ed. Rio de Janeiro, Liv. Garnier, 1993.
2. CUNHA, Antônio Geraldo da – Dicionário
etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro,
1986
3. SILVEIRA, Sousa da - Lições de português,
6.ed. Rio de Janeiro, Livros de Portugual, 1960.
4. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda - Novo
dicionário da língua portuguesa, 3.ed. Rio de Janeiro, Ed.
Nova Fronteira, 1999.
5. HOUAISS, Antônio, VILLAR, Mauro de Salles –
Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro,
Objetiva, 2001
6. MICHAELIS - Moderno dicionário da língua
portuguesa. São Paulo, Cia. Melhoramentos, 1998.
7. NASCENTES, Antenor - Dicionário da língua
portuguesa. Rio de Janeiro. Academia Brasileira de Letras, 1961-1967.
8. BORBA, Francisco S. – Dicionário de usos do
português do Brasil. São Paulo, Editora Ática, 2002.
9. PINTO, Pedro A. - Dicionário de termos médicos,
8. ed. Rio de Janeiro, Ed. Científica, 1962.
10. PACIORNIK, Rodolpho - Dicionário médico,
2.ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1975.
11. REY, Luís. Dicionário de termos técnicos
de medicina e saúde. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan S.A., 1999.
12. BIREME. Disponível em http://www.bireme.br/
em 17/07/2004.
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História
da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br
17/7/2004