SILEPSE OU CONCORDÂNCIA IRREGULAR
Assim denominam os gramáticos a concordância "que se opera não com o termo expresso, mas com outro termo latente, isto é, oculto, mentalmente subentendido".[1]
A silepse pode ser de gênero, número ou pessoa. Exemplos:
a) de gênero:
Vossa Senhoria foi indicado.
(Subentende-se tratar-se
de pessoa do sexo masculino).
b) De número:
Estamos ciente.
Trata-se do chamado plural
majestático; o sujeito é da primeira pessoa do plural (nós)
e o predicativo é usado no singular.
c) De pessoa: Todos
os professores somos responsáveis.
(Todos os equivale
ao sujeito composto eu e os demais).
Interessa-nos, particularmente, a silepse de número, com a qual frequentemente tropeçamos ao redigir artigos científicos. De maneira geral ficamos indecisos diante de frases como estas:
"A maior parte dos pacientes
recebeu (ou receberam?) tratamento ambulatorial".
"A maioria das reações
sorológicas utilizadas possui (ou possuem?) alta sensibilidade".
"Um terço dos casos
submeteu-se (ou submeteram-se) ao teste de esforço".
"Grande número de
gestantes relata (ou relatam?) pirose durante a gravidez".
A concordância nos exemplos citados é facultativa; tanto pode ser com o verbo no singular, como no plural.
No caso especial de percentagem
prevalece a seguinte regra: quando o partitivo estiver no plural, é
indiferente usar-se o verbo no singular ou no plural. Tanto se pode dizer:
"90% dos doentes evoluiu sem complicações", como "90% dos
doentes evoluíram sem complicações".
.
Quando, entretanto, o partitivo
estiver no singular, é preferível o verbo também no
singular. Ex.: "20% da população está contaminada".
"5% da amostra foi desprezada". Excetuam-se os casos em que há
qualificação do percentual e o qualificativo se encontra
no plural. Nestes casos é obrigatório o emprego do verbo
no plural. Ex.: "Os restantes 5% da amostra foram desprezados".[1]
Referência bibliográfica
1 ALMEIDA, N.M. - Gramática metódica da língua
portuguesa, 16. ed., São Paulo, 1963, p. 388.
Publicado no livro Linguagem Médica, 3a. ed., Goiânia, AB Editora
e Distribuidora de Livros Ltda, 2004.
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br
10/9/2004.