TISSULAR, TECIDUAL
Tissular é
uma adaptação do francês tissulaire.
Tissulaire, em francês,
formou-se a partir de tissu, particípio passado do verbo
arcaico tistre, correspondente ao ancestral latino texere,
tecer.[1]
O particípio tissu,
com função adjetiva, foi a seguir substantivado. Como substantivo
era usado para indicar uma espécie particular de pano, de tecido.
Foi Bichat quem, em 1840, dele se utilizou para designar a estrutura dos
componentes anatômicos do corpo humano, chegando a descrever 21 diferentes
tipos de tecido.[2]
Tissu, em francês,
corresponde a tissue, em inglês; tejido, em
espanhol; tessuto, em italiano, e tecido, em português.
Bichat é, com justiça,
considerado o fundador da histologia (do gr. histós,
tecido + lógos, estudo + sufixo -ia).
Segundo Becker, histós, em grego, não significa
propriamente tecido, mas tear.[3]
Uma vez substantivado, o
particípio-adjetivo tissu, tornou-se necessário criar-se
um novo adjetivo que lhe correspondesse. Assim nasceu tissulaire, "qui
concerne les tissus".[4]
Os livros médicos
franceses foram por muito anos os mais lidos no Brasil e, sem dúvida
em decorrência desse fato, introduziu-se na terminologia médica
da língua portuguesa a pseudotradução tissular.
Trata-se, portanto, de um galicismo dispensável.
Os termos vernáculos
mais apropriados para traduzir o francês tissulaire são
textrino,
textural e tecidual.
Textrino corresponde
ao latim textrinus, derivado de texere, tecer.
Seu uso, em substituição a tissular, foi defendido por Plácido
Barbosa.[5] Textural origina-se do latim textura, tendo
sido advogado por Fernandes Figueira,[6] mas não logrou aceitação
geral em linguagem médica. Tecidual formou-se a partir de
tecido com a substituição da vogal o por u
e
acréscimo do sufixo -al, a exemplo de textual, casual, estadual,
etc.
Tecidual é
atualmente o termo mais indicado em substituição a tissular.
Referências bibliográficas
1. DAUZAT, A., DUBOIS, J., MITTERRAND, H. - Nouveau dictionnaire
étymologique et historique, 3.ed. Paris, Larousse, 1964.
2. SKINNER, H.A. - The origin of medical terms, 2.ed.
Baltimore, Williams & Wilkins, 1961.
3. BECKER, I. - Nomenclatura biomédica no idioma
português do Brasil. São Paulo, Liv. Nobel, 1968, p. 281
4. LITTRÉ, E., ROBIN, Ch. - Dictionnaire de médecine,
de chirurgie, de pharmacie, de l’art vetérinaire et des sciences
qui s'y rapportent, 13.ed. Paris, Baillière et Fils, 1873.
5. BARBOSA, P. - Dicionário de terminologia médica
portuguesa. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1917.
6. RIBEIRO, L. - Vocabulário médico. Folha
médica 21: 245-249, 1942.