TÓRAX, TORÁCICO
A palavra tórax
é
de origem grega, tendo sido usada por Homero na Ilíada com o sentido
de armadura ou couraça usada para proteger a parte superior do tronco.
Por transferência, o segmento do corpo coberto pela armadura passou
a chamar-se tórax. Neste sentido, foi o mesmo adotado como termo
anatômico por Hipócrates e Galeno, [1][2]
e posteriormente adaptado ao latim por Celsus.[3]
Escreve-se
em grego com a letra teta no início e a letra csi
no final, razão pela qual passou para o latim com a grafia thorax,
acis.
Do latim veio para o francês
e deste para o português, conservando a mesma grafia latina. Com
a reforma ortográfica de 1943, substituiu-se th por
t
- tórax.
Na opinião do mestre
Pedro Pinto a forma vernácula preferível seria tórace,
[4]
porém o uso consagrou tórax e é tarde para
mudar.
O plural de tórace
é
tóraces, porém tórax é
invariável e tanto se aplica ao singular como ao plural. As palavras
terminadas em
x como o som de cs (tórax, ônix,
bórax), no têm flexão de número.[5]
É uma incongruência, portanto, usar tórax no
singular e tóraces no plural.
O adjetivo torácico
deve ser escrito com c e não com x. As palavras derivadas
do grego por sufixação utilizam de preferencia a forma do
genitivo.[6] Assim, por exemplo, sõma, sõmatos,
deu
origem a somático e não a sômico; diáphragma,
atos,
a diafragmático;
haíma, atos,
hemático.
A forma genitiva de thórax
é
thórakos, de que resulta torácico
e não
toráxico.
Além do que o adjetivo torácico
já
existia em latim (thoracicus). Todos os compostos relativos
a tórax se formaram igualmente a partir do genitivo: toracocentese,
toracoplastia, toracotomia etc.
Deve-se escrever, portanto,
tórax,tanto
no singular como no plural, e torácico
em lugar de toráxico.
Se quisermos adotar o plural
tóraces
teremos
de perfilhar a forma tórace para o singular, como o fazem
alguns puristas extremados, em divergência com a Nomenclatura
Anatômica da Língua Portuguesa, que consagrou a forma
tórax.
Referências bibliográficas
1.SKINNER, H.A. - The origin of medical terms, 2.ed.,
2.ed. Baltimore, Williams & Wilkins, 1961, p. 403
2. HAUBRICH, W.S - Medical meanings. A glossary of word
origins. Philadelphia, Am. College of Physicians, 1997.
3. CELSUS, A.C. - De Medicina. Liber III 22.12. The Loeb
Classical Library, Cambridge, Harvard University Press, 1971, p. 332.
4. PINTO, P. A. - Dicionário de termos médicos,
8. ed. Rio de Janeiro, Ed. Científica, 1962.
5. NASCENTES, A. - O idioma nacional, 3.ed. Rio de Janeiro,
Liv. Acadêmica, 1960, p. 57.
6. LOURO, J.I. - O grego aplicado à linguagem
científica, Porto, Ed. Educação Nacional, 1940, p.
223.
Publicado no livro Linguagem Médica, 3a. ed., Goiânia, AB Editora
e Distribuidora de Livros Ltda, 2004..
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História
da Medicina
e-mail: pedro@jmrezende.com.br
http://www.jmrezende.com.br
10/9/2004.